segunda-feira, 21 de novembro de 2016

COMEÇANDO PELO TELHADO

Vários produtos que desejamos alcançar, existem processos coerentes a percorrer, etapas a serem cumpridas. Um grande e mais usado exemplo e ditado popular é que "não se constrói uma casa começando pelo telhado". Se não for estabelecido um alicerce sólido e bem feito, com certeza tal casa encontrará sua ruína precocemente, se ao menos chegar a ser edificada. No mundo esportivo não é diferente, onde normalmente para se chegar num alvo, principalmente se for um grande alvo, muitas pequenas pedras deverão ser colocadas pelo caminho, para dar sustentação. Como alguém que começa a praticar boxe pode almejar ser campeão mundial logo em sua segunda luta? Uma longa trajetória, provavelmente, será percorrida, que certamente dará estrutura e experiência para o praticante perseguir seu sonho. Isso acontece, de certa forma, também na corrida de rua, onde pessoas acabam de ingressar no mundo das corridas, sem nenhuma aptidão e preparo e já planejam a curto prazo percorrer uma maratona, sem passar por etapas preparatórias. Quando procurado por um aluno iniciante e questionado se é possível percorrer os 42 km de uma maratona, minha resposta é sempre a mesma: possível é, mas nem sempre é indicado. Isso vai variar o nível físico, experiência esportiva (principalmente nas corridas) e a disposição para se preparar para tal feito. Existem pessoas com uma genética favorável para atividades de endurance, que certamente, com estímulos adequados, proporcionam uma rápida evolução, levando o praticante a boas condições para enfrentar os 42 km. Existem outras pessoas, que possuem um histórico em outros esportes que exigem de forma extrema a capacidade cárdio respiratória, como ciclistas e nadadores, obtendo fatores que podem ser aproveitados, para construir uma periodização efetiva para a maratona. A determinação e a consciência do preço que será pago na preparação para a prova, com treinos intensos, desgastantes, que certamente vai mexer com a rotina de um atleta amador, é um fator determinante no êxito ou não do indivíduo a concluir os 42 km, onde muitos querem sentir o prazer de concluir a tão temida maratona, mas poucos querem se preparar de forma coerente para o desafio. Tudo já citado é apenas o básico para iniciar a discussão desse assunto, mas o mais sério é quando um indivíduo, parcialmente sedentário, que nunca praticou atividades físicas, que não tem a menor condição atual de executar tal feito, resolve embarcar nesse propósito, sem imaginar que está pulando muitas etapas, alem de correr o risco de comprometer sua integridade física. Cada um tem seu sonho e objetivo, metas e desafios, mas é tarefa do profissional que cuida desse segmento, nesse caso o educador físico, orientar seu aluno, a melhor e mais indicada distância, preservá-lo e prepará-lo de forma consciente, para que no momento certo, com a condição necessária, ele possa ingressar nesse desafio, estruturado, apto para esse teste de resistência. O treinador tem o papel fundamental de preparar fisicamente e emocionalmente, motivando seus alunos, a buscarem seus objetivos de superação pessoais, mas orientar a coerência e o grau de dificuldade de cada desafio é tão importante quanto, mesmo que isso vá contra o que seu aluno queira ouvir e possa até mesmo perder um aluno...afinal, somos ou não colaboradores para uma plena qualidade de vida?

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Vilã ou heroína?

Até onde uma pedra no caminho, passa de um obstáculo que pode lhe derrubar e prejudicar, para um trampolim de impulso, lhe dando estrutura de sustentabilidade? Como em vários ditos populares, como "a beleza está nos olhos de quem vê", ou "o pessimista observa um problema enquanto o otimista observa a solução". Já para outras pessoas, essa pedra fictícia tornasse tão insignificante que não causa tantas emoções assim, nem pra mais, nem pra menos, apenas mais um adereço, nas estradas dessa vida. Nos últimos meses, estou convivendo de maneira bem próxima com pessoas que possuem diabetes, de variadas faixas etárias, com perfis diferentes, todas praticantes de corridas. De forma superficial, o diabetes é um distúrbio no pâncreas, provocando uma ineficiência na produção de insulina, que é responsável pela passagem da glicose, podendo ser a diabetes do tipo 1 e 2, onde o pâncreas não produz ou produz pouca insulina, influenciando diretamente na glicemia. No início da convivência com essas pessoas, meu conhecimento sobre essa doença era extremamente superficial, sem ter a mínima consciência de como o portador de diabetes se comporta com relação as suas necessidades de controle glicêmico e injeção de insulina quando necessário. Aos poucos, fui percebendo o quanto o diabetes influência o comportamento dessas pessoas, estando presente quase o tempo todo na rotina dos mesmos. Pode parecer uma afirmação meio óbvia, levando em consideração que todo diabético tipo 1, que são aqueles dependentes de injeção de insulina, precisam verificar com muita freqüência o nível de sua glicemia e perceber se há ou não a necessidade de aplicar a insulina. Mas essa observação vai alem de tal controle e toda atenção devida a isso. Com essa convivência, percebi pessoas que controlam o diabetes de forma tão automática que as vezes até esquecemos que as mesmas tem o distúrbio, levando uma vida totalmente "normal". Na mesma intensidade, constatei pessoas que transpiram diabetes, levando-a de forma intensa em suas vidas, em que quase toda conversa a diabetes está presente, seja pelo controle ou sintomas, onde quase todo assunto a mesma está presente. Existem atletas de alta performance diabéticos, que disputam as mais diversas modalidades, nos principais eventos mundiais. Com isso, podemos afirmar, que apesar de tudo já citado, o diabético pode levar uma vida como o não diabético, pode levar seus corpos ao extremo do extremo, como exigido em muitas modalidades esportivas. Apesar disso, também observo pessoas que usam a diabetes como uma muleta, usando-a para causar comoção e gerar pena de si mesmas, uma desculpa para justificar limitações, ou até mesmo motivo para exaltar seus feitos, destacar superação. A diabetes está tão inserida na vida de algumas pessoas, que muitas até a usam como profissão, das mais diversas formas, transformando algo ruim em um "ganha pão", num veículo profissional, destacando-as nessa fatia da área da saúde. Percebo em algumas pessoas, até mesmo sinais de satisfação em enfrentar essa situação, vivenciando atividades como a corrida, misturadas com as pessoas não diabéticas e tendo um desempenho até melhor que elas. Imagino qual seria a reação dessas pessoas, que vestem com orgulho a camisa do diabético, se em um determinado momento de suas vidas, um médico constatasse que as mesmas não tivessem mais tal distúrbio. Acho que algumas ficariam estremecidas, por perder parte de sua identidade, da causa que levam com tanta garra e atenção, onde muitas se unem, dando força uma para outra, na busca por uma vida plena. Com certeza, não sei expressar o que se passa na cabeça e no coração das pessoas que possuem o diabetes, principalmente aqueles que estão no início de sua luta, vivenciando o princípio da rotina de controle e procedimentos, os sentimentos que isso pode gerar, influenciar na auto estima, mexer com o dia a dia. Uma coisa é certa, são grandes guerreiros, capazes de enfrentar qualquer desafio, de qualquer grau de dificuldade, independente se o pâncreas produz ou não insulina, suas determinações e cuidados os levam ao topo de qualquer colina existente.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Ponto Final

Quão difícil e doloroso deve ser um atleta, de qualquer esporte, saber que nunca mais participará da competição que mais gosta, não fará mais parte da festa que envolve cada evento esportivo, não ao menos como atleta. Confesso que me emocionei ao ver Gustavo Kuerten, em sua última participação em Roland Garros, ao ser eliminado, já tendo declarado que se aposentaria do circuito profissional de tênis, despedindo-se daquelas quadras que trouxeram tantas alegrias há um dos maiores tenistas brasileiros. Certamente ele sabia que estaria muitas vezes, como convidado da organização, participando do evento, mas não mais como atleta, dando seu máximo naquele saibro, independente do tamanho de sua chance de ser campeão. O quanto isso deve lhe ter entristecido, confundindo o seu ser, na reorganização de sua identidade. Outra cena que não sai da minha memória foi a despedida de Oscar Schmidt da seleção brasileira de basquete, nos jogos olímpicos de Atlanta de 1996. A camisa verde e amarela era praticamente a segunda pele dele, sendo considerado por muitos o melhor jogador brasileiro de basquete de todos os tempos. Ainda dentro de quadra, Oscar deu uma emocionante entrevista a uma emissora de televisão, descrevendo com muitas lágrimas o que sentia, o quanto difícil seria pra ele não estar mais presente no cenário que ele amava e fazer parte daquela festa. Esse tipo de dor acaba sendo bem dissipada pelos atletas de alta performance de corridas de rua. É muito comum vermos ex corredores de elite, participando de provas que o consagraram no auge, mesmo que apenas pra participar da prova, buscando saúde, qualidade de vida, ou entrar na máquina do tempo e sentir a sensação de levar seu corpo ao máximo do esforço físico, o vento batendo contra o rosto, travando uma batalha incessante contra o cronômetro e cruzar o pórtico de chegada, aquele mesmo que anos antes cruzara em primeiro lugar, mas agora em outra realidade, o objetivo torna-se fazer o seu máximo, sem se preocupar em qual posição possa ter chegado. Por várias vezes, vi o lendário José João, bi campeão da São Silvestre, muitos anos após seu período de conquistas, lutando consigo mesmo, brigando por segundos, para fazer um tempo muito mais alto que seu recorde pessoal, mas tão importante quanto, numa grande amostra de espírito esportivo, mostrando que fazer seu máximo faz parte de seu DNA, independente da posição que chega. Sem falar na brilhante corredora e admirável pessoa, Maria Zeferina Baldaia, que mesmo ainda estando em excelente preparo físico, ainda brigando por vitórias em corridas pelo Brasil, está distante do preparo físico do seu auge, que lhe renderam conquistas em provas tradicionalíssimas, botando seu nome na história do pedestrianismo brasileiro. Será que outros atletas, de outros esportes, permaneceriam ativos, mesmo não estando em seu ápice, não tendo condições de alcançar suas melhores marcas e feitos? E daqui uns 20 anos, será que Maria Zeferina ainda estará participando de São Silvestre, Maratona de São Paulo e afins, provas em que esteve no lugar mais alto do podium? Pessoas comuns terão a oportunidade de correr ao lado dela, e até chegar na frente. Isso proporciona um algo a mais para a corrida de rua. Bem que eu gostaria de jogar uma partida de tênis com Roger Federer, mesmo que não fosse um jogo oficial, numa simples partida amistosa. Está certo que isso seria mais difícil do que parece, pois nem ao menos sei jogar tênis, nunca sequer portei uma raquete. Não deixa de ser um sonho. Assim, podemos dizer que nós, corredores de rua amadores, somos privilegiados, por estarmos participando da mesma prova daqueles atletas que admiramos, mesmo que muito distantes durante a corrida, podendo até mesmo estar correndo ao lado de um multi campeão do passado, nos proporcionando muitas histórias pra contar.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Arquitetos do esporte

Desenvolver um projeto de um prédio, do mais simples até o mais complexo e luxuoso, certamente é um difícil trabalho, exigindo um grau elevado de conhecimento, atenção e muita estratégia, afim de proporcionar o máximo de excelência no projeto, com total segurança, para que tudo funcione corretamente e acima de tudo, que "a casa não caia". Por esse e outros motivos, profissionais desse segmento são tão valorizados, cobrando caro por seus serviços, com suas agendas normalmente lotadas, profissionais que serão responsáveis pelo desenvolvimento do funcionamento de um grande bem em nossas vidas, que é a nossa casa. E treinar uma pessoa para uma corrida de rua, é tarefa mais fácil que essa? Desenvolver uma periodização equilibrada e eficiente, objetivando dar o máximo de condições para que seu aluno conclua, de forma saudável e dentro de suas expectativas, aquele sonho de correr uma maratona, seria algo de menor complexidade? Pode ser que se essas perguntas forem feitas para um engenheiro ou um arquiteto, as respostas sejam positivas, valorizando e elitizando suas ações profissionais, mas se a mesma for feita para aqueles que perdem horas e horas de seu dia, buscando saídas para aplicar os estímulos mais indicados, nos momentos certos, encaixando em rotinas profissionais insanas uma solução para uma preparação física ideal, a resposta com certeza será diferente. O treinador esportivo, por muitas vezes, passa de um simples educador físico para um estrategista, que buscará maneiras de estimular seus alunos, que diferentemente dos atletas profissionais, não possuem o tempo necessário para treino e principalmente para descanso. Por menor que seja as pretensões de um aluno, ele sempre tem em sua mente um objetivo pessoal, motivo esse que o fez procurar por um profissional capacitado, para lhe auxiliar chegar em seu sonho, com o máximo de saúde possível. Daí forma-se o desafio para o treinador, em criar uma periodização de treinamento, com o máximo de eficiência possível, analisando toda rotina de um atleta amador, que muitas vezes trabalha mais de 13 horas diárias, se alimenta inadequadamente, tem uma vida social agitadissima, quer uma evolução rápida, de preferência com premiações nas corridas e acima de tudo, com muita saúde. Essa situação já seria muito delicada em corridas consideradas curtas, normalmente nos 5 e 10 km, provas mais convencionais, que acontecem em quase todos os fins de semana, nas mais diversas cidades, por todo mundo. Agora, quando essa "sinuca de bico" encontra-se nas provas mais longas, entre maratonas e ultramaratonas, esse quebra cabeça fica interessante de se ver. Levando em consideração o aspecto já citado acima, que refere-se ao dia a dia do corredor amador, temos uma situação que inflama um pouco mais a missão do valente treinador, em montar o treinamento de seu aluno, o calendário de provas. Normalmente, o aluno destaca ao seu treinador uma prova alvo, seu objetivo principal a ser alcançado. Suponhamos que tal aluno fictício queira fazer uma ultramaratonas de 50 km, daqui a 4 meses, tempo suficiente para um atleta com uma certa experiência, que esteja já ativo. Tudo isso seria muito simples se esse mesmo aluno não tivesse aproximadamente de 6 a 8 provas superiores a uma maratona (42 km) nessas 16 semanas de treinamento para o desafio principal, de 50 km.É nessa hora que o treinador usa todo seu conhecimento e experiência, para tornar a rotina de treinos mais segura possível, usando todo seu repertório de treinos, buscando ritmos coerentes para estímulos adequados, tomando todo cuidado para seu atleta não se machucar e por fim em seu grande objetivo dos 50 km. Vale destacar que muitas maratonas e ultramaratonas, em sua grande maioria, são realizadas em belos lugares, pontos turísticos, que proporcionam ao atleta e sua família bons momentos de lazer e divertimento, unindo o útil ao agradável. Isso ameniza um pouco a pressão em cima do treinador, onde muitos corredores não se importam muito com suas performances e mesmo seus treinos são relativamente tranqüilos, não exigindo o máximo de seus corpos. Mas existem aqueles que alem de passear e se divertirem, vão dar seu máximo, em todas as provas que participarem, deixando bem divertida a tarefa do nosso genial treinador, pois fazer com que seu aluno chegue ao seu objetivo é sua tarefa, da forma mais saudável possível. Parabenizo esses arquitetos do esporte, pelo excelente trabalho que vem fazendo!

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Enfrentando o Vale da Morte - por Pedro Luiz Cianfarani

Para muitos ultramaratonistas, sem dúvida, a badwater é a corrida dos sonhos e não é diferente para mim. Neste ano, fui convidado pelo amigo João Morelli a ir de apoio (Pace) com ele para Badwater e sem pensar aceitei o convite.
O que ouvimos sobre a prova é que ela acontece no deserto da Califórnia e grande parte no Vale da Morte, um dos lugares mais quentes do mundo. Chegando lá, percebemos de imediato ser um lugar muito quente. Em 2014 ele já havia participado, mas devido a uma desidratação, João Morelli foi tirado da prova, pela equipe médica. Mesmo assim, ele também se assustou com o calor, já que em 2014 a prova não aconteceu no vale da Morte, sendo corrida toda ela em Lone Pine, com uma temperatura mais amena.
A chegada alguns dias antes foi fundamental para aclimatar, não sentindo tanto a temperatura no dia da largada e assim foram as 135 milhas (217km ) do percurso, com o calor mais castigante na largada, devido a altitude de 87 metros abaixo do nível do mar e claro quando o sol se aproximava do meio dia em diante. João Morelli lutou bravamente e engoliu milha a milha, terminando o desafio em 40:33, primeiro dos 3 brasileiro da prova.
Muito mais que o calor, a quem diga que são as 3 subidas intermináveis o maior obstáculo da prova:
A primeira com seus 27 km de distância, saindo de 0 (nível do mar) a 5000 pés. A segunda com seus 29 km de distância, saindo de 1650 pés a 5000 embora não constante. Já a terceira, sendo a mais íngreme, sendo no trecho final, com seus 20 km de distância, saindo de 3600 pés para 8400.
Realmente é uma prova maravilhosa e com um visual lindo, ainda mais que pegamos uma lua cheia belíssima, não precisando correr de lanterna, tamanha claridade.
Deixo aqui meus parabéns ao guerreiro João Morelli e agradeço a oportunidade em participar desta prova mágica, agradecendo também ao amigo que dividiu o apoio comigo, formando o time, Edson Nascimento.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

UAI - Ultra dos Anjos 135 km

Acostumado a participar das ultramaratonas de forma ativa, como atleta, buscando sempre uma performance de excelência, tive uma das melhores experiências de minha vida esportiva, servindo de apoio a meu irmão Pedro Luiz e ao amigo Gecier Gomes, ambos participantes da categoria 135 km da Ultramaratona dos Anjos Internacional, organizada pela UltraRunner Eventos. A UAI, como é conhecida, já é considerada uma das ultramaratonas mais difíceis do Brasil, e por que não do mundo, por suas características de percurso, em estradas de terra cheias de pedras soltas e uma altimetria bem oscilante, tornando a corrida em um grande desafio para aqueles que curtem provas de longa distância. A prova contava com distâncias a partir de 25 km como prova mais curta, até os temidos 235 km, como maior desafio a ser cumprido, tendo também 65, 95 e 135 km respectivamente, alem dos revezamentos de algumas destas distâncias. Foi incrível ver no mesmo evento atletas buscando variadas intensidades e estratégias, percorrendo por muito tempo o mesmo caminho, confundindo as sensações de quem estava assistindo e o ritmo de quem estava correndo. Era nítido perceber, que os atletas se misturavam, um puxando o outro, tornando o ritmo das provas mais longas mais intensas, num contagiante espírito de companheirismo, deixando marcado o quanto a amizade faz parte da ultramaratona brasileira. Ao lado de minha cunhada Claudia, minha missão era auxiliar Pedro e Gecier, conduzindo o carro de apoio, disponibilizando tudo que fosse necessário, para ambos completarem os 135 km da prova. Os dois atletas possuíam praticamente o mesmo ritmo, algo que ajudaria muito a nossa tarefa. Claro que auxiliaríamos aqueles que precisassem de nossa ajuda, mesmo que desconhecidos. Desde a largada, os dois atletas amigos correram lado a lado, puxando o ritmo na maioria do tempo, mas segurando quando necessário. O carro de apoio percorria ao lado dos atletas, tornando a prova muito divertida, pela interação entre corredores com suas equipes, misturados nas belíssimas estradas do Sul de Minas Gerais. Aplicando a estratégia estipulada pela dupla, Pedro e Gecier foram engolindo os quilômetros e suas dificuldades, mantendo suas integridades físicas preservadas, chegando até o último posto de controle, local onde se despediram do carro de apoio, devido o mesmo não conseguir passar, por ser um trecho de preservação ambiental, deixando os atletas sozinhos, sem suporte, em plena madrugada, em estradas e trilhas acidentadas, difíceis de percorrer. Quando já estavam prontos para seguir viagem, buscando percorrer os últimos 40 km e concluir a prova, Pedro e Gecier ganharam a companhia de mais um guerreiro e amigo, Cordeiro Ananias, que também estava na mesma categoria deles, seguindo juntos no mesmo objetivo. Cordeiro havia passado mal horas antes, com uma queda de pressão, sendo auxiliado pelo suporte de outros atletas e brilhantemente se recuperando, com muita determinação, voltando pra prova. Quando faltava aproximadamente 20 km, os três estavam juntos, um incentivando o outro, exalando companheirismo e amizade, sem se importarem se estavam ou não disputando posições. Nesse momento, Cordeiro passou mal mais uma vez, tendo problemas gastro intestinais, sucumbindo ao vômito, mergulhando num intenso mal estar. Mais uma vez, ele superou as dificuldades, incentivado por Pedro e Gecier, percorrendo juntos o restante da prova, completando os dificílimos 135 km, colocando mais uma ultramaratona em seus currículos, a ultramaratona da AMIZADE.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

BOMBANDO AS MONTANHAS

Dizer que as corridas de rua foi a modalidade que mais cresceu nos últimos dez anos tornou-se algo totalmente dispensável, bastando dar uma volta em qualquer parque, de qualquer cidade brasileira, em horários estratégicos, para constatar que a corrida entrou na vida da sociedade brasileira, e porque não dizer do mundo, proporcionando muitos benefícios aos praticantes. Acompanhando esse estrondoso crescimento, diversificando a vida dos mais radicais, outra aba esportiva impressiona nos últimos anos, seja pela sua evolução em vários sentidos, como no número de provas e praticantes, das mais diversas idades, as corridas de montanha. Todo fim de semana,  a chance de ter algum corredor se aventurando, enfrentando lama, trilhas parcialmente fechadas, ou mesmo estradas de terra, de preferência com muita subida, cruzando rios ou pedras, melhor ainda, tudo isso muito atrai os corredores de montanha. Percebendo o crescimento do segmento, as fabricantes de material esportivo se especializaram, dando ênfase em materiais e acessórios, deixando os praticantes totalmente equipados, como verdadeiros aventureiros, prontos para enfiarem seus pés no barro com seus tênis apropriados, com suas mochilas de hidratação, subindo e descendo pedras, usando bastões para auxiliar no equilíbrio e propulsão em subidas, estabilização em descidas, fascinando os amantes da corrida fora do asfalto. Sem falar nas assessorias e equipes esportivas, que criaram núcleos específicos, para atender esse público que tanto cresce, organizando treinamentos especializados, transformar muitas vezes aquele que mal correu no asfalto em um atleta das provas rústicas. Analisar a competitividade dentro das provas de montanha é algo muito interessante, observando as extremidades que distanciam os níveis dos participantes, mostra-se um desafio versátil, dinâmico, cheio de opções que contagiam os corredores. Verificando a grande maioria dos corredores, é legal observar o quanto as provas são niveladas por baixo, devido a grande necessidade de caminhar pelo percurso, decorrente as enormes dificuldades que se encontra, em trilhas acidentadas, subidas e descidas muito ingrimes, rios, pedras, erosões, dentre tantos outros obstáculos que possam surgir, não necessariamente obrigando seu participante ter um cardio respiratório extremamente desenvolvido, onde muitos participantes chegam a percorrer a prova toda caminhando. Por outro lado, observando os corredores da frente, é incrível constatar como conseguem correr e imprimir tamanha velocidade em um local tão difícil de se locomover, transpassar tamanhas dificuldades e obstáculos, perdendo tão pouco tempo, demonstrando extrema destreza, correndo em altíssima intensidade em terríveis subidas e descidas, onde muitas vezes nem se vê onde se está pisando, mostrando o quão completos esses atletas são. Uma coisa é certa, assim como sua irmã mais velha, a corrida de rua, as provas de montanha se mostra uma atividade muito democrática, pronta pra acolher, desde o praticante iniciante, até os grandes atletas de alta performance, todos em busca de saúde, desempenho, natureza e muita aventura.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

UD 75 km - ENFIM A VITÓRIA CHEGOU

Durante esses 18 anos que venho participando de corridas de rua, por diversas vezes me veio o pensamento de como seria cruzar a linha de chegada em primeiro, estar no lugar mais alto do pódium. Estive muitas vezes entre os 5 primeiros, subindo a pódium, após fazer boas provas, mas nunca havia vencido uma corrida. No dia 14 de Maio, em Morungaba, finalmente senti essa sensação, de forma inesperada pelas circunstâncias que ocorreram na semana antecedente, terminando em primeiro lugar os 75 km da UD de Morungaba. Estava sem pretensões de participar de provas, treinando para manter o condicionamento físico, sem metas específicas. Meu irmão, Pedro Luiz, por diversas vezes havia me chamado para correr a Ultramaratona UD de Morungaba, prova duríssima de 75 km, com inúmeras subidas e trilhas, mas não estava muito a fim de assumir tal desafio, devido a muitas lesões que venho enfrentando nos últimos anos. Há duas semanas pra prova, conversando com o treinador e companheiro de Nova Equipe, Emerson Bisan, resolvi aceitar o desafio de enfrentar os 75 km e literalmente “ver o que poderia acontecer”. Encaixei alguns treinos específicos no pouco tempo que tinha pra preparação, buscando ganhar um pouco de volume, pois nos últimos meses não estava rodando muito, apenas treinos curtos e intensos. No último treino longo pra prova, a 6 dias pra prova, senti fortes dores na musculatura da panturrilha direita, aumentando as incertezas e insegurança pra ultramaratona que realizaria. Pra apimentar mais as coisas, minha família pegou uma virose, com vômitos e diarréia, mais uma situação pra administrar até o dia da prova. Pensei por diversas vezes em desistir de participar, mas meu Senhor e Salvador, Jesus Cristo, é um Senhor de milagres e se fosse de sua vontade que completasse os 75 km, certamente não seria lesões e nem viroses que me tirariam do seus planos. O treinador Emerson Bisan ainda frizou que se a lesão na panturrilha não me atrapalhasse, certamente eu me surpreenderia com meu resultado. O clima da prova estava agradável, muitos atletas, nas diversas categorias que o evento dividiu. Meus amigos Ultraloucos, como sempre, me davam todo incentivo e força nos momentos antes da largada. Nos instantes antes da largada, orei a Deus, pedindo que me protegesse dos males que poderiam ocorrer. Assim que largamos, o desconforto na panturrilha se mostrava presente, uma incógnita do que seria a prova, colocando ainda mais pontos de interrogação na minha cabeça. Decidi seguir em frente, ate onde meu corpo permitisse e se não desse mais, pararia no posto de controle mais próximo e voltaria de carona. Aos poucos a musculatura foi esquentando, a dor foi amenizando e o ritmo estabilizando, correndo num ritmo seguro e confortável para 75 km. Quando percebi que estava superando todas as subidas sem precisar caminhar e que já estava em primeiro lugar, fui percebendo que finalmente chegaria em primeiro lugar. Confesso que me emocionei nos quilômetros finais, me lembrando de todas as dificuldades que havia enfrentado, das várias lesões que me fizeram pensar em desistir da corrida, de todo deserto que havia enfrentado nos últimos anos... daí me lembrei que o deserto é um dos lugares onde temos mais intimidade com Deus, lugar de crescimento, onde provamos o amor do Pai. Terminei a prova com pouco mais de 07 horas e 40 minutos, primeiro colocado Geral nos 75 km, muito feliz com o resultado e desfeche dessa história. Agradeço a todos que fizeram parte desse momento tão especial da minha vida... Toda honra, glórias e louvores a ti, Senhor Jesus, aquele que é, que era e que há de vir!!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Pedro Luiz - Vencendo todas as dificuldades

Com o intuito de relatar resumidamente a participação de Pedro Luiz Cianfarani na Brazil 135 Ultramarathon, realizada no final de janeiro desse ano, esse texto descreve o quão preciso Pedro aplicou sua estratégia na prova, completando os 260 km em pouco mais de 45 horas. Ele estava muito determinado antes da prova, pois no ano anterior foi impedido de seguir em frente a menos de 5 km da linha de chegada, estando seu nome fora da lista de concluintes. Sua estratégia era manter o mesmo ritmo durante todo percurso, tarefa dificílima levando em consideração o surgimento do cansaço somado com as imensas dificuldades de relevo. No primeiro dia as nuvens deram uma quebrada na temperatura, mas no segundo o sol castigou os atletas. De forma brilhante, Pedro controlou o ritmo, superou o cansaço, seguiu sem parar pra descansar, completando a prova em sétimo lugar, completando os 260 km, mais uma conquista para seu currículo!

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O Valente Parreira na prova mais dura do Brasil

 Parreira: "Mais um desafio a ser realizado. A expectativa é enorme. Embora não tenha treinado o quanto desejava, acredito ter condições de terminar dentro das 60 horas. Se conseguir em menos tempo será mérito também da equipe, Josmar e Leandro. Temos acompanhado o clima na região e está um tanto desafiador achar uma estratégia específica, tem chovido muito. Como sempre , tudo pode acontecer na Br135+, esperemos que aconteça o melhor possível, para todos os envolvidos neste evento. Mas minha meta é chegar antes das 55 horas. Conto com a força de meus amigos, da equipe e a fé em Deus para atingir o desafio".

sábado, 2 de janeiro de 2016

Pedro Luiz pronto pra encarar a Brazil 135!!

Todo atleta, sendo um profissional ou não, tem sua prova ou competição favorita, aquela que fazem seus olhos brilhar, invadindo seus sonhos, fazendo seu pensamento estar grande parte de seu tempo nela. Em todos os esportes, essas competições existem, sejam elas em esportes coletivos ou individuais, abrangendo os profissionais até os amadores. No futebol citamos a copa do mundo de seleções, sonho de todo atleta em fazer parte, de alguma forma dessa história, mesmo que não entre em nenhum minuto sequer. No tênis, disputar uma partida de um Grand Slan é sinônimo de prestígio, mesmo que não vença ao menos um jogo. Para a turma do ciclismo, estar presente alguns metros na volta da França já seria uma grande recompensa. Na Ultramaratona, principalmente no cenário nacional, participar da Brazil 135 Ultramathon é significativamente incendiar as emoções, fantasiar objetivos e encarar um grande desafio. Para um atleta, Pedro Luiz Cianfarani, meu irmão, essa próxima edição da Br 135, que será realizada em 2016, será sua última participação solo no evento. Segundo ele, treinar para essa dificílima prova, seja pela distância ou pela altimetria, sendo um atleta amador, que precisa trabalhar durante o dia e treinar em horários alternativos, não tem sido nada fácil, comprometendo boa parte de seus compromissos durante aproximadamente 4 meses, tempo da preparação para a corrida. Pedro treina em dois períodos, logo pela manhã, antes de ir para seu trabalho e a noite, logo que volta. Ter a compreensão de sua esposa Claudia é fundamental, pois o treinamento envolve toda sua rotina, inclusive nos fins de semana. Sem contar nos gastos, que consomem uma grande fatia de seu orçamento. Não precisa destacar o quanto ele gosta dessa prova, pois com todos os aspectos relativamente negativos, ainda assim é um dos primeiros a confirmar sua participação. Sonha literalmente com sua estratégia, imaginando a melhor estratégia, passando pelos trechos, sentindo as dificuldades que enfrentará, as dores musculares, o sono avassalador, mas quando se lembra do sabor de cruzar a linha de chegada, de mãos dadas com sua equipe que lhe ajudara durante todo percurso, acorda com a extrema motivação de botar seu nome mais uma vez na história da Brazil 135. Essa será sua quinta participação no evento, tendo completado em todos os anos anteriores a distância proposta. Após sua preparação para a edição 2016, segundo ele, encontra-se em sua melhor forma em comparação com anos anteriores, com lesões minimizadas e estabilizadas, sistema cardio respiratório extremamente treinado, com a parte muscular em perfeitas condições, pronto para tentar fazer seu melhor e por um ponto final em sua história solo na Brazil 135 Ultramarathon.