Na reta final de mais um ano,
mais um ciclo que se fecha, inicia-se a rotineira auto análise de
produtividade, nas mais diversas áreas, desde aquelas que dedicamos muito, até
aquelas que mal dedicamos alguns segundos durante o ano todo. Como não poderia
ficar de fora, a corrida foi um dos aspectos bem avaliados, desbravando não
somente resultados, mas a fonte de todo esforço realizado, a MOTIVAÇÃO que me
impulsiona a traçar metas e buscar os objetivos. Convivendo com vários tipos de
atletas, desde os amadores, que buscam saúde e qualidade de vida, até aqueles
que exalam performance, observo a diversidade de cada indivíduo quanto aos
motivos que os conduzem ao seu alvo, seu sonho, verificando que cada ser que
coloca um tênis de corrida e sai para correr, pertence a um universo totalmente
paralelo, onde a competição na maioria das vezes não existe. Pessoas que
pertencem ao mesmo grupo, vestem as mesmas cores, participam até mesmo das
mesmas provas, mas que trilham caminhos totalmente diferentes, motivados por
coisas tão pessoais que os colocam numa disputa contra si mesmo, onde superar
seus obstáculos, vencer seus gigantes é a parte que mais importa. Quão
maravilhoso é, observar uma pessoa sedentária, anos sem se exercitar, perceber
a extrema necessidade de construir uma ponte que a livra da “vila preguiça”,
levando-a ao “jardim saúde”. Tais pessoas colocam seus objetivos a mesa,
banhadas de muito medo, mas envolvidos da mais pura euforia e intensa vontade,
que para um “já praticante” é uma coisa corriqueira, simples, conseguir correr
10 km, de preferência sem caminhar. Percorrer esses 10 km e cruzar a linha de
chegada, mesmo que imaginária, é uma valorizada vitória, para alguém que pouco
tempo antes não conseguia nem ao menos caminhar rápido, pois já ficava ofegante,
mas que deu um gigantesco e valorizado passo para uma vida saudável. Me deixa
extremamente feliz observar aqueles que já estão em uma rotina intensa de
provas e desafios, que já conhecem seus corpos, enxergam seus limites e buscam
superá-los, com treinos cada vez mais intensos e desgastantes, nas mais
diversas características, correr 5 km abaixo de 17 minutos, ou correr em 24
horas mais de 200 km. Para tais desafios, o esforço para quem deseja alcançar
metas assim provavelmente vai ser elevado, abrindo mão de uma vida teoricamente
normal, onde provavelmente o individuo vai ter que abrir mão de algum conforto
ou mimo, seja ele descanso, ou um hábito alimentar, pagar o preço para se
manter fisicamente em condições de alcançar seu objetivo e é exatamente nisso
que a MOTIVAÇÃO entra na vida de um atleta, é o combustível que vai
impulsioná-lo o mais próximo possível da linha de chegada de seus sonhos. Em
toda minha vida como praticante de corrida, consigo ver as fronteiras de cada
objetivo, cada estado que percorri para as mais diversas metas. No inicio,
qualquer meta era extremamente atraente, principalmente quando não se levava
uma vida tão saudável assim. Correr 10 km em menos de 40 minutos, por alguns
anos foi meu principal objetivo, treinando, tentando, fracassando, persistindo
e conseguindo, até mesmo fazer abaixo de 37 minutos, que para muitos é algo
fácil de conseguir, mas para mim foi uma vitória. Entrar no mundo das
ultramaratonas foi a coisa mais impensada que já fiz, sem refletir muito sobre
o assunto. Na época, precisava de um grande desafio para me afastar das coisas
nocivas da sociedade e percorrer 100 km me parecia uma boa opção. Foi uma longa
jornada de treinos até chegar o dia da prova, conseguindo cumprir a distância
em 11 horas e 17 minutos. A partir deste desafio, minha MOTIVAÇÃO era melhorar
meus tempos cada vez mais, conseguindo fazer a mesma distância em 9 horas e 12
minutos, 1 ano depois. Mas hoje, verificando a vida como um todo, seguindo um
caminho sólido, estreito e verdadeiro, minha maior motivação é viver uma vida
saudável, que a corrida pode me proporcionar qualidade de vida, uma ferramenta para
eliminar fatores de risco. É certo também que o corpo colhe conseqüências de
anos de muito esforço e intensidade, acompanhado de muitas lesões que
impossibilitam de traçar metas mais ousadas, alinhando cada vez mais minha
MOTIVAÇÃO a pensar um pouco a frente, daqui uns anos, em ter uma vida saudável
e poder contar um pouco das histórias que adquiri nessas corridas.E você, o que
te motiva?