segunda-feira, 21 de novembro de 2016

COMEÇANDO PELO TELHADO

Vários produtos que desejamos alcançar, existem processos coerentes a percorrer, etapas a serem cumpridas. Um grande e mais usado exemplo e ditado popular é que "não se constrói uma casa começando pelo telhado". Se não for estabelecido um alicerce sólido e bem feito, com certeza tal casa encontrará sua ruína precocemente, se ao menos chegar a ser edificada. No mundo esportivo não é diferente, onde normalmente para se chegar num alvo, principalmente se for um grande alvo, muitas pequenas pedras deverão ser colocadas pelo caminho, para dar sustentação. Como alguém que começa a praticar boxe pode almejar ser campeão mundial logo em sua segunda luta? Uma longa trajetória, provavelmente, será percorrida, que certamente dará estrutura e experiência para o praticante perseguir seu sonho. Isso acontece, de certa forma, também na corrida de rua, onde pessoas acabam de ingressar no mundo das corridas, sem nenhuma aptidão e preparo e já planejam a curto prazo percorrer uma maratona, sem passar por etapas preparatórias. Quando procurado por um aluno iniciante e questionado se é possível percorrer os 42 km de uma maratona, minha resposta é sempre a mesma: possível é, mas nem sempre é indicado. Isso vai variar o nível físico, experiência esportiva (principalmente nas corridas) e a disposição para se preparar para tal feito. Existem pessoas com uma genética favorável para atividades de endurance, que certamente, com estímulos adequados, proporcionam uma rápida evolução, levando o praticante a boas condições para enfrentar os 42 km. Existem outras pessoas, que possuem um histórico em outros esportes que exigem de forma extrema a capacidade cárdio respiratória, como ciclistas e nadadores, obtendo fatores que podem ser aproveitados, para construir uma periodização efetiva para a maratona. A determinação e a consciência do preço que será pago na preparação para a prova, com treinos intensos, desgastantes, que certamente vai mexer com a rotina de um atleta amador, é um fator determinante no êxito ou não do indivíduo a concluir os 42 km, onde muitos querem sentir o prazer de concluir a tão temida maratona, mas poucos querem se preparar de forma coerente para o desafio. Tudo já citado é apenas o básico para iniciar a discussão desse assunto, mas o mais sério é quando um indivíduo, parcialmente sedentário, que nunca praticou atividades físicas, que não tem a menor condição atual de executar tal feito, resolve embarcar nesse propósito, sem imaginar que está pulando muitas etapas, alem de correr o risco de comprometer sua integridade física. Cada um tem seu sonho e objetivo, metas e desafios, mas é tarefa do profissional que cuida desse segmento, nesse caso o educador físico, orientar seu aluno, a melhor e mais indicada distância, preservá-lo e prepará-lo de forma consciente, para que no momento certo, com a condição necessária, ele possa ingressar nesse desafio, estruturado, apto para esse teste de resistência. O treinador tem o papel fundamental de preparar fisicamente e emocionalmente, motivando seus alunos, a buscarem seus objetivos de superação pessoais, mas orientar a coerência e o grau de dificuldade de cada desafio é tão importante quanto, mesmo que isso vá contra o que seu aluno queira ouvir e possa até mesmo perder um aluno...afinal, somos ou não colaboradores para uma plena qualidade de vida?

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Vilã ou heroína?

Até onde uma pedra no caminho, passa de um obstáculo que pode lhe derrubar e prejudicar, para um trampolim de impulso, lhe dando estrutura de sustentabilidade? Como em vários ditos populares, como "a beleza está nos olhos de quem vê", ou "o pessimista observa um problema enquanto o otimista observa a solução". Já para outras pessoas, essa pedra fictícia tornasse tão insignificante que não causa tantas emoções assim, nem pra mais, nem pra menos, apenas mais um adereço, nas estradas dessa vida. Nos últimos meses, estou convivendo de maneira bem próxima com pessoas que possuem diabetes, de variadas faixas etárias, com perfis diferentes, todas praticantes de corridas. De forma superficial, o diabetes é um distúrbio no pâncreas, provocando uma ineficiência na produção de insulina, que é responsável pela passagem da glicose, podendo ser a diabetes do tipo 1 e 2, onde o pâncreas não produz ou produz pouca insulina, influenciando diretamente na glicemia. No início da convivência com essas pessoas, meu conhecimento sobre essa doença era extremamente superficial, sem ter a mínima consciência de como o portador de diabetes se comporta com relação as suas necessidades de controle glicêmico e injeção de insulina quando necessário. Aos poucos, fui percebendo o quanto o diabetes influência o comportamento dessas pessoas, estando presente quase o tempo todo na rotina dos mesmos. Pode parecer uma afirmação meio óbvia, levando em consideração que todo diabético tipo 1, que são aqueles dependentes de injeção de insulina, precisam verificar com muita freqüência o nível de sua glicemia e perceber se há ou não a necessidade de aplicar a insulina. Mas essa observação vai alem de tal controle e toda atenção devida a isso. Com essa convivência, percebi pessoas que controlam o diabetes de forma tão automática que as vezes até esquecemos que as mesmas tem o distúrbio, levando uma vida totalmente "normal". Na mesma intensidade, constatei pessoas que transpiram diabetes, levando-a de forma intensa em suas vidas, em que quase toda conversa a diabetes está presente, seja pelo controle ou sintomas, onde quase todo assunto a mesma está presente. Existem atletas de alta performance diabéticos, que disputam as mais diversas modalidades, nos principais eventos mundiais. Com isso, podemos afirmar, que apesar de tudo já citado, o diabético pode levar uma vida como o não diabético, pode levar seus corpos ao extremo do extremo, como exigido em muitas modalidades esportivas. Apesar disso, também observo pessoas que usam a diabetes como uma muleta, usando-a para causar comoção e gerar pena de si mesmas, uma desculpa para justificar limitações, ou até mesmo motivo para exaltar seus feitos, destacar superação. A diabetes está tão inserida na vida de algumas pessoas, que muitas até a usam como profissão, das mais diversas formas, transformando algo ruim em um "ganha pão", num veículo profissional, destacando-as nessa fatia da área da saúde. Percebo em algumas pessoas, até mesmo sinais de satisfação em enfrentar essa situação, vivenciando atividades como a corrida, misturadas com as pessoas não diabéticas e tendo um desempenho até melhor que elas. Imagino qual seria a reação dessas pessoas, que vestem com orgulho a camisa do diabético, se em um determinado momento de suas vidas, um médico constatasse que as mesmas não tivessem mais tal distúrbio. Acho que algumas ficariam estremecidas, por perder parte de sua identidade, da causa que levam com tanta garra e atenção, onde muitas se unem, dando força uma para outra, na busca por uma vida plena. Com certeza, não sei expressar o que se passa na cabeça e no coração das pessoas que possuem o diabetes, principalmente aqueles que estão no início de sua luta, vivenciando o princípio da rotina de controle e procedimentos, os sentimentos que isso pode gerar, influenciar na auto estima, mexer com o dia a dia. Uma coisa é certa, são grandes guerreiros, capazes de enfrentar qualquer desafio, de qualquer grau de dificuldade, independente se o pâncreas produz ou não insulina, suas determinações e cuidados os levam ao topo de qualquer colina existente.