Vários produtos que
desejamos alcançar, existem processos coerentes a percorrer, etapas a serem
cumpridas. Um grande e mais usado exemplo e ditado popular é que "não se constrói uma casa começando
pelo telhado". Se não for estabelecido um alicerce sólido e bem feito, com
certeza tal casa encontrará sua ruína precocemente, se ao menos chegar a ser
edificada. No mundo esportivo não é
diferente, onde normalmente para se chegar num alvo, principalmente se for um
grande alvo, muitas pequenas pedras deverão ser colocadas pelo caminho, para
dar sustentação. Como alguém que começa a praticar boxe pode almejar ser
campeão mundial logo em sua segunda luta? Uma longa trajetória, provavelmente,
será percorrida, que certamente dará estrutura e experiência para o praticante
perseguir seu sonho. Isso acontece, de certa forma, também na corrida de rua,
onde pessoas acabam de ingressar no mundo das corridas, sem nenhuma aptidão e
preparo e já planejam a curto prazo percorrer uma maratona, sem passar por
etapas preparatórias. Quando procurado por um aluno iniciante e questionado se é possível percorrer os 42 km de uma maratona,
minha resposta é sempre a mesma: possível é, mas nem sempre é indicado. Isso vai variar o nível físico, experiência esportiva
(principalmente nas corridas) e a disposição para se preparar para tal feito.
Existem pessoas com uma genética favorável para atividades de endurance, que
certamente, com estímulos adequados, proporcionam uma rápida evolução, levando
o praticante a boas condições para enfrentar os 42 km. Existem outras pessoas,
que possuem um histórico em outros esportes que exigem de forma extrema a
capacidade cárdio respiratória, como ciclistas e nadadores, obtendo fatores que
podem ser aproveitados, para construir uma periodização efetiva para a
maratona. A determinação e a consciência do preço que será pago na preparação
para a prova, com treinos intensos, desgastantes, que certamente vai mexer com
a rotina de um atleta amador, é um
fator determinante no êxito ou não do indivíduo a concluir os 42 km, onde
muitos querem sentir o prazer de concluir a tão temida maratona, mas poucos
querem se preparar de forma coerente para o desafio. Tudo já citado é apenas o básico para iniciar a discussão desse
assunto, mas o mais sério é quando
um indivíduo, parcialmente sedentário, que nunca praticou atividades físicas,
que não tem a menor condição atual de executar tal feito, resolve embarcar
nesse propósito, sem imaginar que está pulando muitas etapas, alem de correr o
risco de comprometer sua integridade física. Cada um tem seu sonho e objetivo,
metas e desafios, mas é tarefa do profissional
que cuida desse segmento, nesse caso o educador físico, orientar seu aluno, a
melhor e mais indicada distância, preservá-lo e prepará-lo de forma consciente,
para que no momento certo, com a condição necessária, ele possa ingressar nesse
desafio, estruturado, apto para esse teste de resistência. O treinador tem o
papel fundamental de preparar fisicamente e emocionalmente, motivando seus
alunos, a buscarem seus objetivos de superação pessoais, mas orientar a coerência
e o grau de dificuldade de cada desafio é tão importante quanto, mesmo que isso vá contra o que seu aluno queira
ouvir e possa até mesmo perder um aluno...afinal, somos ou não colaboradores
para uma plena qualidade de vida?
segunda-feira, 21 de novembro de 2016
sexta-feira, 18 de novembro de 2016
Vilã ou heroína?
Até onde uma pedra no
caminho, passa de um obstáculo que pode lhe derrubar e prejudicar, para um
trampolim de impulso, lhe dando estrutura de sustentabilidade? Como em vários
ditos populares, como "a beleza está nos olhos de quem vê", ou "o
pessimista observa um problema enquanto o otimista observa a solução". Já
para outras pessoas, essa pedra fictícia tornasse tão insignificante que não
causa tantas emoções assim, nem pra mais, nem pra menos, apenas mais um
adereço, nas estradas dessa vida. Nos últimos meses, estou convivendo de
maneira bem próxima com pessoas que possuem diabetes, de variadas faixas
etárias, com perfis diferentes, todas praticantes de corridas. De forma
superficial, o diabetes é um distúrbio no pâncreas, provocando uma ineficiência
na produção de insulina, que é responsável pela passagem da glicose, podendo
ser a diabetes do tipo 1 e 2, onde o pâncreas não produz ou produz pouca
insulina, influenciando diretamente na glicemia. No início da convivência com
essas pessoas, meu conhecimento sobre essa doença era extremamente superficial,
sem ter a mínima consciência de como o portador de diabetes se comporta com
relação as suas necessidades de controle glicêmico e injeção de insulina quando
necessário. Aos poucos, fui percebendo o quanto o diabetes influência o
comportamento dessas pessoas, estando presente quase o tempo todo na rotina dos
mesmos. Pode parecer uma afirmação meio óbvia, levando em consideração que todo
diabético tipo 1, que são aqueles dependentes de injeção de insulina, precisam
verificar com muita freqüência o nível de sua glicemia e perceber se há ou não
a necessidade de aplicar a insulina. Mas essa observação vai alem de tal
controle e toda atenção devida a isso. Com essa convivência, percebi pessoas
que controlam o diabetes de forma tão automática que as vezes até esquecemos
que as mesmas tem o distúrbio, levando uma vida totalmente "normal".
Na mesma intensidade, constatei pessoas que transpiram diabetes, levando-a de
forma intensa em suas vidas, em que quase toda conversa a diabetes está
presente, seja pelo controle ou sintomas, onde quase todo assunto a mesma está
presente. Existem atletas de alta performance diabéticos, que disputam as mais
diversas modalidades, nos principais eventos mundiais. Com isso, podemos
afirmar, que apesar de tudo já citado, o diabético pode levar uma vida como o
não diabético, pode levar seus corpos ao extremo do extremo, como exigido em
muitas modalidades esportivas. Apesar disso, também observo pessoas que usam a
diabetes como uma muleta, usando-a para causar comoção e gerar pena de si
mesmas, uma desculpa para justificar limitações, ou até mesmo motivo para
exaltar seus feitos, destacar superação. A diabetes está tão inserida na vida
de algumas pessoas, que muitas até a usam como profissão, das mais diversas
formas, transformando algo ruim em um "ganha pão", num veículo
profissional, destacando-as nessa fatia da área da saúde. Percebo em algumas
pessoas, até mesmo sinais de satisfação em enfrentar essa situação, vivenciando
atividades como a corrida, misturadas com as pessoas não diabéticas e tendo um
desempenho até melhor que elas. Imagino qual seria a reação dessas pessoas, que
vestem com orgulho a camisa do diabético, se em um determinado momento de suas
vidas, um médico constatasse que as mesmas não tivessem mais tal distúrbio.
Acho que algumas ficariam estremecidas, por perder parte de sua identidade, da
causa que levam com tanta garra e atenção, onde muitas se unem, dando força uma
para outra, na busca por uma vida plena. Com certeza, não sei expressar o que
se passa na cabeça e no coração das pessoas que possuem o diabetes,
principalmente aqueles que estão no início de sua luta, vivenciando o princípio
da rotina de controle e procedimentos, os sentimentos que isso pode gerar,
influenciar na auto estima, mexer com o dia a dia. Uma coisa é certa, são
grandes guerreiros, capazes de enfrentar qualquer desafio, de qualquer grau de
dificuldade, independente se o pâncreas produz ou não insulina, suas
determinações e cuidados os levam ao topo de qualquer colina existente.
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