quinta-feira, 18 de julho de 2024

Barkley Marathon 2024, eu estive lá !!! Por Pedro Luiz Cianfarani – Parte III A Prova

 

Laz

Agora sim, chegamos ao momento da prova e como falei em outras ocasiões tudo nesta prova parece ser desafiador e difícil até mesmo a viagem, então irei começar este relato com meu voo de ida aos EUA. Assim que fui comunicado com o “dia “da prova procurei me programar com antecedência afim de evitar surpresas e mesmo assim marquei minha chegada 5 dias antes do evento, pensando em um rápido reconhecimento no Parque bem como comprar comida e bebida já que estaria acampado. Sai de SP dia 15/03 com previsão de chegada para dia 16 fazendo 2 conexões, NY e Atlanta, a imigração aconteceu em NY e foi ai que começou minha aventura quando perdi a conexão devido à demora, sim perdi o voo para Atlanta pela demora com a liberação e conferencia das malas e descobri que este não foi necessariamente o problema, mas sim o efeito domino que isso causaria já que existem muitos voos saindo de NY para Atlanta coisa que não existe com voos de Atlanta para Knoxville-TN por se tratar de um aeroporto pequeno ..... Não quero me alongar porque queremos chegar na corrida em si, mas depois muita conversa e ligações conseguimos embarcar no último voo do dia e chegando na primeira hora do dia 17 no Tennessee após mais de 26 horas.

Nos dias que antecederam a prova procurei finalizar alguns preparativos que faltavam, alimentação e hidratação e também procurar conhecer o Parque, procurei conhecer algumas trilhas e trechos que foram utilizados em edições anteriores, mais tarde percebi que o trajeto foi muito diferente de edições anteriores com exceção da prisão que todo ano está presente por se tratar do local que praticamente inspirou a prova.

Yellow Gate

Dia 19, meu Deus !!! Realmente estava lá diante do famoso Yellow Gate (Portão Amarelo), acho que tirei umas 100 fotos apenas no portão, mas minha emoção chegou ao seu máximo quando finalmente encontro o maior símbolo da Barkley Marathon, Lazaros Lake, o Laz. Não sei se nos brasileiros somos mais cara de pau, mas notei que os atletas tinham um receio de se dirigir a ele ou estavam aguardando ele terminar os preparativos que faz questão de fazer pessoalmente, claro que isso não vale para Claudia que prontamente pediu para tirar uma foto com ele que prontamente a atendeu abraçando-a para pose e mais que depressa consegui minha Self com a lenda.

Na sequência fui dar continuidade no processo de entregar alguns documentos onde entreguei a placa de um carro do Brasil, US$ 1,60, um presente para o Laz e retirar meu número e algumas informações pertinentes a prova, tudo isso fazendo parte do ritual. Imaginei que na documentação que ganhei teria uma cópia do mapa do percurso que iria fazer, mas não, o mapa estava estendido na mesa para poder copiar e transferir para meu mapa que por sorte trouxe. Vale lembrar que não temos um caminho demarcado e nosso único recurso para nos guiar é este mapa e claro que estudei muito navegação por bussola e calcular suas coordenadas, agora imagina como estava a ansiedade .... Mas ainda não tinha uma foto com o Laz, mas a Claudia parecendo que tinha amizade de anos com ele pediu mais uma vez para eu tirar uma foto juntos e ele muito pronto levanta meu braço pousando para foto, ganhando minha maior recordação da Barkley que inclusive brinquei que já poderia ir embora rsrs.

Carl e Corneteiro


Agora fomos arrumar nosso acampamento e aguardar o toque da concha já que não sabíamos a hora certa da largada, ou seja após o toque da concha ai sim saberíamos que em 1 hora daria a largada com o Laz acedendo seu cigarro, assim poderíamos escutar o som da concha a partir das 23 horas do dia 19 em diante. Até tentei dormir, acho que apenas cochilei já que o frio estava implacável. Nessa hora o silencio era total com atletas e apoio procurando descansar e por volta das 3 horas da madrugada fomos acordado com um som bem alto, assim todos atletas começam seus últimos preparativos quando recebemos a notícia que que fora um alarme falso, o alarme de um carro disparou .... Como dormir agora? Até pouco mais de uma 

Carl 

hora mais precisamente as 4:17 ouvimos o som da concha fazendo o Parque acordar, agora sim seria real. Em seguida precisamos nos dirigir na tenda da organização e retirar nosso relógio fornecido por eles já que não é permitido nenhum dispositivo eletrônico a não ser este.

Aqui cabe mais uma história para mostrar que tudo é feito para dificultar ao máximo a prova, meses antes da prova recebemos um comunicado pelo canal oficial do Facebook de que já estavam de posse dos relógios  que seriam entregues aos atletas antes da largada e dos 40 relógios 39 eram analógicos e apenas 1 seria touch, ou seja 1 atleta seria o sorteado para dificultar ainda mais sua prova já que pelo frio e vegetação com muito espinho todos atletas quase que obrigatório iriam correr com luvas e  seria impossível manusear o relógio, agora adivinha quem foi o sorteado em usar este relógio ? claro que fui eu rsrsrs. Mas se for para deixar o desafio o mais difícil possível que pegasse o pacote completo e como Raul Seixas fala em uma música “Foi tão fácil conseguir e agora lhe pergunto, e daí?”

Assim as 5 horas e 17 minutos do dia 20/03/2024 Laz acende seu cigarro dando a largada da Barkley Marathon 2024 e quase 40 atletas saem em disparada para esta que é considerada a mais icônica e difícil corrida do mundo, assim partimos rumo ao primeiro livro com uma subida logo de cara dando as boas-vindas aos atletas, em um momento estava muito próximo a um  atleta que por um momento desapareceu aparecendo logo atrás de mim e quando perguntei o que aconteceu me respondeu que escorregou voltando uns 20m, mas este foi o mais fácil dos livros pelo fato de todos atletas estarem bem próximos.

Por ser minha primeira vez na competição procurei seguir a cartilha que mostram na internet e tratei de seguir um veterano afim de começar a entender como funciona a competição, mas o perdi de vista por estar escuro ainda já que o sol nascia por volta das 8:30 horas ainda quando seguia para o segundo livro, procurei me unir a um outro atleta seguindo minha estratégia, mas nos perdemos várias vezes e sempre nos encontrávamos quando avistava o superveterano Hiram Rogers com 20 participações e isso aconteceu algumas vezes e foi quando tomei uma decisão de acompanha-lo mesmo estando em um ritmo muito abaixo do meu. Nessa hora pensei muito em fazer o loop em um ritmo mais baixo e correr o risco de não conseguir completa-lo a tempo de abrir as próximas voltas ou me perder e nem completar 1 loop sequer, assim segui este meu novo mentor e amigo.

Hiram

Por sua experiência Hiram conhecia o caminho como ninguém e nem ao menos possuía um mapa da região, ou melhor tinha apenas um lenço com o mapa do parque algumas vezes pedia meu mapa com as coordenadas que havia traçado afim de localizar-se. Mas estava disposto a aprender e não só segui-lo e sempre pegava minha bussola e meu mapa e sempre conferir o caminho junto dele coisa que percebi ser muito importante como irei comentar a frente.

Segui apenas eu e o Hiram até o quinto livro quando encontramos mais um atleta americano que nos fez companhia até o Observatório. Pouco antes da escalada ao Observatório, local onde teria o segundo posto de água notei que minha água havia acabado e teria fazer essa escalada sem água, mas notei que muitos riachos cortavam a região e perguntei ao Hiram se poderia beber a água do riacho de imediato respondeu que não, mas depois de mexer em sua mochila retira um frasco com capsulas de cloro me entrega e fala que agora podia beber, assim reabasteci minhas garrafas e enfrentei mais uma subia bem pesada. Enquanto nos abastecíamos com água 3 atletas nos alcançaram enquanto conversávamos fiquei sabendo que estavam apenas retornando ao parque já que haviam perdido algum livro.

O Observatório é conhecido pelos atletas como um ponto para aqueles que decidem abandonar a prova por ter uma trilha que leva direto ao ponto de partida e também como único ponto onde nossos apoio podem nos encontrar, minha esposa até tentou me encontrar, mas precisou retornar após torcer o tornozelo quando pisou em uma pedra e quando chegamos ao Brasil descobriu que ganhou uma lembrança do Frozen Park, uma fratura ....

Assim que chegamos ao Observatório e pegamos nossa décima primeira página o Hiram se dirige a mim me dá os parabéns e fala que agora seria comigo, pois ele estava abandonando a prova falando estar muito cansado e iria voltar ao ponto de partida junto com o outro americano que nos acompanhava .... Agora precisava honrar os ensinamentos do meu amigo e fazer este trecho sozinho e conseguir minhas 15 páginas e completar o loop.

Prisão

Completei minha água, sabia que não teria mais nenhum ponto de água pela frente e parti rumo ao ponto mais famoso da prova, ponto que deu origem a corrida, a prisão. Passaria por um túnel com água muito gelada onde encontraria meu primeiro livro sozinho, mas bem fácil por ser o mais popular sendo mostrado em muitos documentário.

Já este próximo, o décimo terceiro, considero o mais difícil, depois de uma subida muito dura iria encontrar este livro bem no topo e depois de muita procurar não o localizava, nesta hora procuro um local para me sentar, abro meu mapa e começo a estudar e foi quando me lembrei de um detalhe, quando calculava as coordenadas não fiz a correção da região por ser muito pequena, mas percebi que fez diferença e assim que corrigi localizei o livro perdendo muito tempo.

Vale aqui uma breve explicação, existe o norte magnético e o norte geográfico e cada região precisa fazer sua correção no mapa já que a bussola aponta o norte magnético e dependendo da região a correção é bem grande e como aquela região a correção é 5º pensei em corrigir durante a corrida, mas acabei esquecendo.

No penúltimo livro peguei uma forte descida terminando em um rio já ao cair da noite onde encontro com um atleta Suíço onde paramos por um momento para comer alguma coisa e trocar algumas palavras, agora imagina a conversa que saiu rsrs.

Segui agora para meu último livro com a escalada de mais uma forte subida já com o cair da noite e sabia que após este livro sairia um uma trilha do parque que havia estudado com meu amigo dias antes da prova, acredito ser este o único ponto que estudei que havia no mapa o tornando tranquilo.

Pelo tempo já sabia que não poderia abrir a próxima volta, mas nada iria abalar minha alegria em completar um loop da prova que havia perseguido por anos e estava muito feliz e chegando ao Yellow Gate (Portão Amarelo) vejo muitas pessoas me aguardando, minha esposa fazendo uma enorme festa e ficando aliviada em me ver chegando depois de ver o atleta argentino retornar após se perder em encontrar com 2 ursos no caminho e me conhecendo sabia que só iria retornar com minhas 15 páginas.

Jasmim
Assim que toquei o portão, Laz já me dá a notícia que não poderia abrir a próxima volta por causa do tempo e prontamente retiro minhas 15 páginas mostrando ter feito a volta completa e ele admirado me deu os parabéns e bem orgulhoso respondi, I am a Barkley (Eu sou um Barkley). Na sequência acontece todo ritual para o atleta quando sai da prova quando é tocado a corneta como a baixa de um soldado ... Até para sair da prova nos emocionamos e com a mão no peito acompanho emocionado o toque da corneta.

Campeão

Agora queria curtir todos os momentos da prova e acompanhar a chegada de todos atletas, ficando até o final oficial do evento e pude ver 5 atletas concluírem, ano com maior número de concluintes  e presenciar mais um fato inédito, a primeira mulher na história da prova a conclui-la e  restando pouco mais de 1 minuto para o termino nos dá momentos de pura emoção com a chegada da Jasmim desabando ao chão assim  que toca o portão e nessa hora a emoção se transformou em preocupação, mas passado o susto foi hora de comemorar.

E assim foi minha participação na mais dura e icônica corrida do mundo me sentindo realizado com todos estes anos de corridas sendo coroado com a Barkley Marathon e agora posso falar, I am a Barkley!

segunda-feira, 6 de maio de 2024

Barkley Marathon 2024, eu estive lá !!! por Pedro Luiz Cianfarani – Parte II Preparação


Nesta parte quero mostrar um pouco do meu preparo e por se tratar de uma prova que pouca coisa sabemos acaba dificultando o preparo, mas junto com meu irmão Beto Cianfarani procuramos traçar a melhor estratégia e claro que coube a ele preparar minha musculatura com uma série específica para suportar a incrível altimetria que iria enfrentar, bem como minhas rodagens durante a semana que por sinal estava bem preenchida com folga apenas na sexta feira e embora tinha uma ideia que seria chamado intensifiquei mesmo os treinos nos 4 meses que antecederam a prova.

Como a prova ocorre em um parque sem marcação, estrada ou trilha precisei da ajuda do mestre em trail no Brasil, o André Lima que me ensinou o básico até porque não daria tempo de me tornar um especialista no assunto, mas com a ajuda da turma dos Guerreiros Trail consegui uma boa base para enfrentar o Frozen Head State Park e pude conhecer muitas trilhas por São Paulo que nunca imaginava.

Na parte nutricional quem me acompanha é o Reinaldo Tubarão Bassit (não precisa de apresentação) e fizemos alguns ajustes que antecederam a prova bem como o tão aguardado dia afim de chegar mais leve e mais forte para enfrentar as montanhas do Tennessee e confesso que não foi nada fácil, mas o que foi fácil nesta prova? 

E não é que teve algo fácil na preparação !!! rsrsrs  , os profissionais que me ajudaram a suportar toda esta maratona de treino. Na massoterapia ficou por conta do Élcio Alexandre que conseguia trazer de volta minha musculatura depois de eu maltrata-la. Para trazer o equilíbrio do corpo o grande amigo Dicler fez sua magia com suas agulhas na acupuntura e com certeza afirmo ser fundamental para o preparo.

Como falei anteriormente por não possuir marcação para se localizar sendo necessário se orientar por bússola e não ter nenhuma noção a respeito precisei estudar e estudar muito, a princípio me assustei mas hoje com a internet as coisas ficam mais fáceis, acabei buscando muitas aulas por vídeo e apostilas e para me ajudar com as dúvidas contei com os amigos Robson Saes e Anselmo Anjos me ajudando assim colocar a teoria na prática.

Durante minhas rodagens semanais sempre contei com os Ultraloucos que nunca deixaram os treinos caírem na rotina deixando nossas rodagens sempre divertidas e preciso falar de uma pessoa em especial
minha companheira Claudia que sempre esteve ao meu lado me apoiando e incentivando onde muitas vezes com tanto treino só nos víamos para dormir.


Assim foi um pouco da minha preparação onde cheguei a falar que nesta competição tudo iria tentar te tirar da prova pela sua dificuldade onde pouco mais de 1% dos atletas TERMINARAM a prova, assim a única coisa não usaria como justificativa é que não me preparei para prova.

Agora sim vem a parte mais divertida, como foi a corrida .... Mas isso fica para próxima parte.

Aguardem .....

Treinador – Beto Cianfarani - instagram.com/beto_cianfarani/

Trail – Andre Lima - instagram.com/andrelimatrilhas/

Guerreiros trail - instagram.com/guerreirostrail/

Nutricionista – Reinaldo Tubarão - instagram.com/reinaldotubarao.phd/

Massoterapeuta – Élcio Alexandre - instagram.com/elcioalexandreda/

Acupuntura – Dicler Agostinetti - instagram.com/dicleragostinetti/

Robson Saes  - instagram.com/robsonsaes/

Anselmo Anjos - instagram.com/anselmoanjos/

 

sexta-feira, 5 de abril de 2024

Barkley Marathon 2024, eu estive lá !!! Por Pedro Luiz Cianfarani - Parte I Condolências

 

Depois de 6 anos desvendando os segredos para entrar na mais icônica das corridas finalmente recebo a tão aguardada carta de” condolências”, sim esta e a forma que somos convidados a participar da Barkley Marathon, me tornando o 2º brasileiro a receber este convite, segue trecho da carta “saudações; Eu lutei e lutei para descobrir a melhor forma de dar essa notícia a você. Procurei em minha alma alguma maneira de suavizar o golpe por alguma maneira de aliviar a sensação de desgraça e mau pressentimento isso certamente irá se instalar em sua mente como uma névoa densa e congelada. Por alguma maneira de evitar o frio glacial que permeará seu coração como uma chuva gelada e congelada...mas não há realmente nada a fazer a não ser expor:

É meu lamentável dever informá-lo que você foi selecionado para correr nas maratonas Barkley de 2024...

Deixa falar um pouco de como é esta corrida que foi inspirada depois que o detento James Earl Ray preso pelo assassinato de Martin Luther King e estava cumprindo pena na Penitenciaria Estadual de Brusky Montain – Tennessee, conseguiu escapar e em 56 horas foragido não conseguiu sair mais que 13 km do presidio, assim em 1986 diante deste fato um grupo de corredores começaram a criar a Barkley Marathon e por muitos anos não houve concluintes, até que alguém conseguiu finalizar mostrando ser possível sua finalização, claro que em todos estes anos muita coisa mudou sempre para deixa-la mais difícil, uma prova disso é que em todos estes anos apenas 20 atletas conseguiram concluir.

A dificuldade começa para conseguir ser convocado, pois não possui um site para obter qualquer informação e para conseguir a convocação é um verdadeiro jogo de investigação, antes mesmo de receber a carta de “condolências” recebemos um convite para entrarmos em um grupo de Facebook privado onde receberemos informações e o grupo tem uma regra muito simples sigilo total.

Se conseguir passar por esta fase de convite se prepare que irá participar de uma das corridas mais difíceis que existe onde tudo é feito para que você não a complete, o caminho não é demarcado precisamos nos orientar por bússola por um circuito de 30 a 40 km cada volta num total de 5 voltas e cada volta é num sentido, ou seja 1ª volta sentido horário, 2ª volta sentido anti-horário e assim por diante.

Para provar que passamos pelo caminho correto alguns livros são escondidos, onde devemos encontra-los e destacar a página correspondente ao nosso número de peito, este ano tivemos que encontrar 15 livros pelo caminho. Quem conseguir completar a volta ou Loop vai entregar seu número de peito junto das 15 páginas e depois de conferido você recebe um novo número de peito e pode abrir uma nova volta.

Não podemos usar qualquer tipo de GPS apenas mapa e bússola, o caminho só saberemos algumas horas antes da largada quando é fixado um mapa em uma mesa após entregarmos 1,60 dólares, uma placa de carro do meu país e um presente para o organizador que este ano foi um par de meias de lã.

Também não sabemos qual a hora da largada apenas somos informados o dia, assim devemos ficar acampados no Park e aguardar o toque de uma concha e após este toque teremos 1 hora para nos preparar para a largada, mas antes retirar o relógio fornecido pela organização para garantir que ninguém utilize GPS e quando icônico Lazarus Lake acender seu cigarro a corrida começa com seus mais de 3000 m de altimetria acumulada por volta e 16000 m nas 5 voltas, equivalente a subir 2x o Evereste.

Nesta parte procurei falar um pouco sobre a prova por ser muito diferente das que estamos acostumados a ver e se apenas começas a falar da preparação e como foi minha participação muitos não iriam entender, então aguardem as próximas partes deste desafio que com certeza ficou marcada na minha vida.  

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Um segundo semestre bem corrido – Por Pedro Luiz Cianfarani

Até parece brincadeira, mas tirando os 235 km da UAI em julho minhas provas neste segundo semestre ficou concentrada em apenas 20 dias, 100 km UTM em 14/10, Backyard/ 100 km Bolívia 27/10 e 12 horas de pista da Fênix em 04/11.

De início havia decidido não fazer a UTM por não concordar com o alto custo de hospedagem em Campos do Jordão me programando apenas para fazer as 12 horas da Fênix em São Bernardo e matar a saudade de rodar em uma pista, afinal seria na minha cidade.

As coisas começaram a mudar quando o amigo Gecier tentou me convencer a ir para UTM e já que ele iria no mesmo dia da largada para Campos do Jordão eliminando assim o valor absurdo da hospedagem .... Não precisou muito para eu mudar de ideia rsrs e agora teria 20 dias entre uma prova e outra.

Quem pensa que meu planejamento estava finalizado se enganou e precisei encaixar mais uma prova entre estes 20 dias quando meu amigo e organizador da Backyard na Bolívia me intimou a participar da prova que iria organizar (claro que não intimou, mas eu precisava para me convencer rsrsrs) e assim ficaram 3 competições em 20 dias.

Começando pelos 100 km da UTM que era para ser uma prova bem tranquila, mas ganhou um toque de emoção quando meu tênis que estava muito tempo guardado, após a metade da prova descolou o solado todo fazendo terminar a prova quase descalço, mas isso não impediu o prazer em completar mais um desafio. Inclusive um amigo vendo minha chegada sempre alegre e vibrando me perguntou como estava alegre e vibrante chegando quase sem tênis e com os pés bem dolorido, apenas respondi:

- Tinha 2 opções, chegar me lamentando e reclamando do ocorrido, culpando meu tempo acima do esperado por este problema ou enaltecer ainda mais minha prova concluída .... Claro que escolhi a 2ª opção.

Sem muito descanso e treino fui para Bolívia e desta vez, diferente de quando fui em 2019, cheguei com pouco tempo para me aclimatar com a altitude que foi cruel me derrotando fazendo sair da
competição prematuramente apenas na 4ª volta e confesso ter ficado muito chateado, mas não havia notado um detalhe do regulamento que poderia competir em qualquer uma das 4 provas que estavam sendo realizadas simultaneamente, Backyard, 100 km, 100 milhas e 24 horas.

Sem perder mais tempo, pois havia perdido muito por não saber deste detalhe, sai para os 100 km computando minhas voltas da Backyard e agora correria do meu jeito sem me preocupar com as regras da Backyard podendo controlar os efeitos da altitude. Para minha surpresa durante o jantar de premiação descubro que havia conquistado a 3ª colocação e claro que esta viagem irá ganhar um relato com todos os detalhes.

Retornando ao Brasil nem consegui treinar, apenas descansei os 5 dias que antecederia as 12 horas da Fênix que foi marcada pelo caos que estava a cidade devido à forte chuva do dia anterior e de forma heroica o organizador de primeira viagem nos entregou uma boa prova.

Na prova de início pensei em apenas caminhar na pista para ficar com meus amigos Ultraloucos que compareceu em peso, mas no decorrer da prova a musculatura foi se soltando e consegui ditar um ritmo até que bom e confortável para evitar alguma lesão conseguindo ainda rodar 87 km e ficando satisfeito.

Sempre agradeço a todos que sempre me apoiam e me incentivam em meus desafios.

Meu muito obrigado

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

UAI - Ultramaratona 235 km - julho de 2023 por Pedro Luiz Cianfarani

 Depois de muitos anos fazendo provas acima de 200 km, decidi começar a fazer provas novas e finalizar algumas das principais no Brasil e resolvi começar pelos 235 km da UAI que aconteceu em 7 de julho de 2023 e como falei na postagem anterior vim de uma sequência de provas bem pesada coisa que não gosto de fazer, mas infelizmente aconteceu e procurei fazer de forma de não sobrecarregar o corpo.

Formei minha equipe tradicional com minha companheira Claudia e meu treinador e irmão Beto que já me acompanham em muitos de meus desafios.

Assim em uma manhã de sexta-feira, muito fria, demos a largada saindo de Passa Quatro, primeiro PC seria em Itamonte e sem sair do meu estilo percorri os 20 km de forma bem conservadora e sem apoio que só poderia me acompanhar a partir de Itamonte.

Próximo trecho seria até Alagoa com o primeiro grande desafio da prova, uma subida constante por uma rodovia até chegar na entrada do Garrafão ¹ e neste trecho sempre acompanhado de perto pelo meu apoio, e passando o Garrafão segui sozinho em mais um trecho sem apoio vindo a encontra-los pouco antes de Alagoa onde chegamos no próximo PC com 65 km e uma ótima estrutura. 

Abastecido parti para Aiuruoca em um trecho de 30 km e com a noite e temperatura caindo muito e procurei manter meu ritmo sempre constante e acumulando kms até vencer mais uma etapa até Aiuruoca acumulando assim 95 km e cada vez mais frio. Para imaginar como estava frio pedi uma sopa para Claudia para tomar antes de seguir rumo ao Papagaio, e para minha surpresa quando encontrei minha equipe a Claudia me falou que não conseguiu preparar a sopa porque o fogareiro não conseguiu esquentar o suficiente. Será que estava frio?

Mas a estrutura da prova estava impecável e o PC sempre bem servido, então pude contar com uma sopa quentinha  para esquentar o corpo e seguir no trecho considerado o mais desafiador. E agora abastecido e bem aquecido com roupas apropriada segui rumo a pousada da família Garcia no ponto mais alto da prova, na Serra do Papagaio. Chegando na pousada que é um PC procurei não parar muito apenas dei o nome me abasteci de agua e segui caminho para não sentir a mudança de temperatura aconchegante dentro da pousada.

Agora enfrentaria o pior trecho, uma longa descida com muito buraco e pedras soltas, um prato cheio para uma lesão. Tive 3 quedas e uma delas bem feia onde pensei ter lesionado o joelho ou melhor o que sobrou dele rsrsrs .... Neste trecho realmente perdi muito tempo descendo com muito cuidado para evitar mais tombos e quase no raiar do dia chego no próximo PC no Gamarra com 135 km.

Tomei um café reforçado e parti para os últimos 100 km e agora com uma temperatura mais agradável onde o frio havia dado uma trégua e voltando ao meu ritmo conservador e constante sigo em frente passando por Baependi e chegando até Caxambu no próximo PC e neste trecho pude contar com a companhia ao meu lado hora da Claudia, hora do Beto, neste PC apenas me identifiquei e segui para São Lourenço e aliviado por saber que começaria nos 50 km finais. 

Nesta hora precisei reforçar as bandagens do pé para não ter surpresa com as bolhas e me sentindo muito bem coloquei um ritmo forte e constante aproveitando um longo trecho plano e pensando em apenas finalizar a prova, nesta hora chega a 2ª noite e o último PC no Bar do Zé Maria.

Com a vontade de terminar crescendo por saber que só restaria 30 km para finalizar, mas sabia que ainda enfrentaria meu último desafio, uma serra de 11 km e chegando ao pé da serra a Claudia que bravamente havia me acompanhado entrou no carro dando lugar para meu irmão Beto me auxiliar no ritmo e como sempre gosto de fazer ao final de qualquer desafio aumento meu ritmo subindo os 11 km sempre correndo , quando a Claudia parava o carro no meio da serra perguntando se precisava de alguma coisa e sempre respondia que só iria comer ou beber algo quando finalizasse a subida e apenas gostaria de terminar.

Terminando a subida restava apenas os últimos 12 km sendo 4 km de descida até a cidade e nesta hora com a 2ª noite começa as alucinações ² onde tinha a nítida impressão que havia atletas chegando, todos sabem que não me preocupo com colocações, mas no final dos 235 km queria manter esta minha colocação e procurei manter meu ritmo até o final finalizando em pouco mais de 40 horas, 3º colocado e muito feliz e sensação de missão cumprida.

1 – Pouco antes de chegar na entrada do garrafão um caminhão de leite encosta ao meu lado e pede para tomar cuidado com os javalis que como haviam alguns com cria ficavam agressivos chegando a atacarem até os carros quando passavam pela rodovia rsrsrs.

2 - Ainda sobre a impressão de atleta chegando quando comecei a ver luzes chegando meu irmão confirmou que não havia ninguém chegando e não me falou nada porque viu que eu estava bem motivado rsrsrs.

Sem palavras para agradecer minha equipe e sempre falo que o sucesso do desafio são de todos.

Obrigado minha amada Claudia e meu irmão e parceiro Beto

terça-feira, 8 de agosto de 2023

Fechando o primeiro semestre - por Pedro Luiz Cianfarani

 Sempre falo que a Br 135 apesar de ser realizada em janeiro a considero o encerramento do calendário de corridas, assim este ano coloquei como prova alvo a UAI 235 km realizada em julho e neste primeiro semestre saíram muitos treinos e algumas provas pelo caminho.

Entre as provas comecei quase no susto com a Maratona de SP quando uma grande amiga que veio me visitar faria a prova e não pude resistir e lembrando os velhos tempos no dia 02 de abril completei a Maratona de SP sem aquela obrigação de tempo baixo e mesmo assim completei em 4 horas e 30 min.


No final de abril, dia 29, consegui levar vários Ultraloucos para Itupeva para participar da Backyard ou como é chamada popularmente Resta 1 e quando tudo parecia definido recebo um convite da Ultra Runner Eventos para uma prova piloto, UTM Ultramaratona Transmantiqueira 100 km no dia 06 de maio e precisava definir junto do Beto uma nova programação já que seria apenas uma semana após a Backyard e foi definido direcionar atenção nos 100 km da UTM. Assim completei apenas 8 voltas, 56 km em Itupeva e na semana seguinte os 100 km em 15 horas e 30 min.

Imaginava agora focar na UAI…. Mas recebo um convite do amigo e organizador de corridas Zobaran para uma prova piloto, Five5Attacks no dia 12 de maio, logo de início repassei o convite para meu irmão Beto que me convenceu em participar também afim de conhecer a prova, assim os irmãos Cianfarani foram conhecer este novo formato de prova. Eu subi 2 dos 3 ataques e meu irmão ganhou a prova ganhando os 3 ataques e cravando o melhor tempo.

Agora sim foco total para os 235 km da UAI e foram muitos treinos , rodagens e fortalecimento e no dia 07 de julho carimbei mais uma grande prova em meu currículo finalizando em pouco mais de 40 horas e 3º colocado com apoio, mas este relato precisa ganhar um capitulo a parte, aguardem

sábado, 21 de janeiro de 2023

Dupla Cianfarani na BR135


 

O ano de 2023 começou em grande estilo pra família Cianfarani. Fugindo do habitual, meu irmão Pedro Cianfarani e eu (Beto Cianfarani) decidimos enfrentar os 217 km da BR135 juntos, na categoria dupla. Pedro, nos últimos anos, vem se dedicando a enfrentar desafios longos e ritmados, normalmente superiores à 200 km, onde seu treinamento, de maneira geral, o prepara para tais provas longas e estratégicas. Já esse que vos escreve, vem se dedicando a treinos curtos e intensos, bem longe do ambiente competitivo, usando a corrida mais como um instrumento para a estética e saúde, mas dando condições de enfrentar com qualidade as mais diversas provas. Pedro já concluiu a BR muitas vezes, em sua maioria solo. Essa seria minha quinta participação no evento, a segunda em revezamento. Dentro de nossas rotinas, profissionais e pessoais, nos dedicamos a um bom treinamento, equilibrado e prudente, na expectativa de adquirir as melhores condições para fazer uma boa prova. Desde a decisão de nossa participação, decidimos que curtiríamos o percurso, levando a sério a estratégia, mas sem deixar de curtir o visual do percurso. Fizemos rodagens longas, treinos Intervalados, treinos em percurso montanhoso, tudo na expectativa de obter boas condições de enfrentar o tão difícil percurso da BR135. Pedro ainda usou os 100 km da UAI Reverse como treino, tudo pensando em chegar em bom estado pra prova. O clima e as condições das estradas de terra nos preocupavam muito, pois chovia a várias semanas na região da prova, circunstâncias que poderiam dificultar ainda mais uma prova que com certeza já seria muito dura. Quem cuidaria do nosso apoio seria minha cunhada Claudia, esposa do Pedro, responsável por dirigir, ajudar na alimentação e logística, ou seja, tarefa bem difícil para realizar sozinha.  Após toda tensão normal antes da largada,  fui responsável por abrir o revezamento, objetivando imprimir um ritmo intenso no início e pegar as estradas de terra em melhores condições, antes que toda multidão de carros passassem. Tinha certeza que seria uma prova cansativa, como sempre, mas arriscamos um ritmo intenso nos primeiros 100 km. Pegamos muita lama até chegar a cidade de Andradas, com um pouco menos de 60 km, mas aos poucos o percurso foi melhorando, não sendo atrapalhado pelas condições das estradas. Por volta do km 70, tive que contornar alguns problemas gastro intestinais, além de uma queda de pressão, situação que aumentou a tensão em nossa equipe. Nesse momento, Pedro bravamente segurou a pressão, ajudando na manutenção do nosso ritmo. Alguns quilômetros depois, me reestabeleci e voltamos para o jogo. Enfrentamos bem a madrugada, revezando entre 2 a 3 km cada, se mantendo bem até Borda da Mata, no km 140. A partir daí, o desgaste bateu e o sofrimento e as dores muscular foram nossos companheiros. Até a cidade de Estiva, próximo ao km 180, estávamos em primeiro lugar entre as duplas. Fomos ultrapassados na entrada do centro de Estiva, perseguindo assim a dupla que estava em nossa frente. Nos esforçamos muito, tirando de nossos corpos tudo que tínhamos, mas estava bem difícil recuperar a primeira posição, ocupada naquele momento por uma excelente dupla de Brasília. Nos últimos 18 km, o carro de apoio não estava passando, deixando a tarefa de enfrentar esse último trecho para o Pedro, que naquele momento é quem estava em melhores condições na dupla. Ele pegou muita chuva e muita lama, conseguindo imprimir um forte ritmo, na intenção de recuperar a primeira colocação entre as duplas. Não foi possível, perdendo ainda nos quilômetros finais a segunda colocação, finalizando a prova em terceiro lugar entre as duplas, com 30 horas e 23 minutos de prova. Foi maravilhoso ter enfrentado esse percurso insano ao lado do meu irmão, dividindo todas as dificuldades, buscando tirar forças daquilo que já estava cansado. Sensação de dever cumprido, onde Claudia conseguiu bravamente nos ajudar sozinha e Pedro e eu dar nosso máximo e concluir mais uma vez a BR135!