Laz |
Agora sim, chegamos ao momento da prova e como falei em outras ocasiões tudo nesta prova parece ser desafiador e difícil até mesmo a viagem, então irei começar este relato com meu voo de ida aos EUA. Assim que fui comunicado com o “dia “da prova procurei me programar com antecedência afim de evitar surpresas e mesmo assim marquei minha chegada 5 dias antes do evento, pensando em um rápido reconhecimento no Parque bem como comprar comida e bebida já que estaria acampado. Sai de SP dia 15/03 com previsão de chegada para dia 16 fazendo 2 conexões, NY e Atlanta, a imigração aconteceu em NY e foi ai que começou minha aventura quando perdi a conexão devido à demora, sim perdi o voo para Atlanta pela demora com a liberação e conferencia das malas e descobri que este não foi necessariamente o problema, mas sim o efeito domino que isso causaria já que existem muitos voos saindo de NY para Atlanta coisa que não existe com voos de Atlanta para Knoxville-TN por se tratar de um aeroporto pequeno ..... Não quero me alongar porque queremos chegar na corrida em si, mas depois muita conversa e ligações conseguimos embarcar no último voo do dia e chegando na primeira hora do dia 17 no Tennessee após mais de 26 horas.
Nos dias que antecederam a prova procurei finalizar alguns preparativos que faltavam, alimentação e hidratação e também procurar conhecer o Parque, procurei conhecer algumas trilhas e trechos que foram utilizados em edições anteriores, mais tarde percebi que o trajeto foi muito diferente de edições anteriores com exceção da prisão que todo ano está presente por se tratar do local que praticamente inspirou a prova.
Yellow Gate |
Dia 19, meu Deus !!! Realmente
estava lá diante do famoso Yellow Gate (Portão Amarelo), acho que tirei umas
100 fotos apenas no portão, mas minha emoção chegou ao seu máximo quando
finalmente encontro o maior símbolo da Barkley Marathon, Lazaros Lake, o Laz.
Não sei se nos brasileiros somos mais cara de pau, mas notei que os atletas
tinham um receio de se dirigir a ele ou estavam aguardando ele terminar os preparativos
que faz questão de fazer pessoalmente, claro que isso não vale para Claudia que
prontamente pediu para tirar uma foto com ele que prontamente a atendeu abraçando-a
para pose e mais que depressa consegui minha Self com a lenda.
Carl e Corneteiro |
Agora fomos arrumar nosso
acampamento e aguardar o toque da concha já que não sabíamos a hora certa da
largada, ou seja após o toque da concha ai sim saberíamos que em 1 hora daria a
largada com o Laz acedendo seu cigarro, assim poderíamos escutar o som da
concha a partir das 23 horas do dia 19 em diante. Até tentei dormir, acho que
apenas cochilei já que o frio estava implacável. Nessa hora o silencio era
total com atletas e apoio procurando descansar e por volta das 3 horas da
madrugada fomos acordado com um som bem alto, assim todos atletas começam seus
últimos preparativos quando recebemos a notícia que que fora um alarme falso, o
alarme de um carro disparou .... Como dormir agora? Até pouco mais de uma
Carl |
hora mais precisamente as 4:17 ouvimos o som da concha fazendo o Parque acordar, agora sim seria real. Em seguida precisamos nos dirigir na tenda da organização e retirar nosso relógio fornecido por eles já que não é permitido nenhum dispositivo eletrônico a não ser este.
Aqui cabe mais uma história para
mostrar que tudo é feito para dificultar ao máximo a prova, meses antes da prova
recebemos um comunicado pelo canal oficial do Facebook de que já estavam de
posse dos relógios que seriam entregues
aos atletas antes da largada e dos 40 relógios 39 eram analógicos e apenas 1
seria touch, ou seja 1 atleta seria o sorteado para dificultar ainda mais sua
prova já que pelo frio e vegetação com muito espinho todos atletas quase que
obrigatório iriam correr com luvas e
seria impossível manusear o relógio, agora adivinha quem foi o sorteado
em usar este relógio ? claro que fui eu rsrsrs. Mas se for para deixar o
desafio o mais difícil possível que pegasse o pacote completo e como Raul
Seixas fala em uma música “Foi tão fácil conseguir e agora lhe pergunto, e
daí?”
Assim as 5 horas e 17 minutos do dia 20/03/2024 Laz acende seu cigarro dando a largada da Barkley Marathon 2024 e quase 40 atletas saem em disparada para esta que é considerada a mais icônica e difícil corrida do mundo, assim partimos rumo ao primeiro livro com uma subida logo de cara dando as boas-vindas aos atletas, em um momento estava muito próximo a um atleta que por um momento desapareceu aparecendo logo atrás de mim e quando perguntei o que aconteceu me respondeu que escorregou voltando uns 20m, mas este foi o mais fácil dos livros pelo fato de todos atletas estarem bem próximos.
Por ser minha primeira vez na
competição procurei seguir a cartilha que mostram na internet e tratei de
seguir um veterano afim de começar a entender como funciona a competição, mas o
perdi de vista por estar escuro ainda já que o sol nascia por volta das 8:30
horas ainda quando seguia para o segundo livro, procurei me unir a um outro
atleta seguindo minha estratégia, mas nos perdemos várias vezes e sempre nos
encontrávamos quando avistava o superveterano Hiram Rogers com 20 participações
e isso aconteceu algumas vezes e foi quando tomei uma decisão de acompanha-lo
mesmo estando em um ritmo muito abaixo do meu. Nessa hora pensei muito em fazer
o loop em um ritmo mais baixo e correr o risco de não conseguir completa-lo a
tempo de abrir as próximas voltas ou me perder e nem completar 1 loop sequer,
assim segui este meu novo mentor e amigo.
Hiram |
Por sua experiência Hiram conhecia o caminho como ninguém e nem ao menos possuía um mapa da região, ou melhor tinha apenas um lenço com o mapa do parque algumas vezes pedia meu mapa com as coordenadas que havia traçado afim de localizar-se. Mas estava disposto a aprender e não só segui-lo e sempre pegava minha bussola e meu mapa e sempre conferir o caminho junto dele coisa que percebi ser muito importante como irei comentar a frente.
Segui apenas eu e o Hiram até o quinto livro quando encontramos mais um atleta americano que nos fez companhia até o Observatório. Pouco antes da escalada ao Observatório, local onde teria o segundo posto de água notei que minha água havia acabado e teria fazer essa escalada sem água, mas notei que muitos riachos cortavam a região e perguntei ao Hiram se poderia beber a água do riacho de imediato respondeu que não, mas depois de mexer em sua mochila retira um frasco com capsulas de cloro me entrega e fala que agora podia beber, assim reabasteci minhas garrafas e enfrentei mais uma subia bem pesada. Enquanto nos abastecíamos com água 3 atletas nos alcançaram enquanto conversávamos fiquei sabendo que estavam apenas retornando ao parque já que haviam perdido algum livro.
O Observatório é conhecido pelos
atletas como um ponto para aqueles que decidem abandonar a prova por ter uma
trilha que leva direto ao ponto de partida e também como único ponto onde
nossos apoio podem nos encontrar, minha esposa até tentou me encontrar, mas
precisou retornar após torcer o tornozelo quando pisou em uma pedra e quando
chegamos ao Brasil descobriu que ganhou uma lembrança do Frozen Park, uma
fratura ....
Assim que chegamos ao
Observatório e pegamos nossa décima primeira página o Hiram se dirige a mim me
dá os parabéns e fala que agora seria comigo, pois ele estava abandonando a
prova falando estar muito cansado e iria voltar ao ponto de partida junto com o
outro americano que nos acompanhava .... Agora precisava honrar os ensinamentos
do meu amigo e fazer este trecho sozinho e conseguir minhas 15 páginas e
completar o loop.
Prisão |
Completei minha água, sabia que não teria mais nenhum ponto de água pela frente e parti rumo ao ponto mais famoso da prova, ponto que deu origem a corrida, a prisão. Passaria por um túnel com água muito gelada onde encontraria meu primeiro livro sozinho, mas bem fácil por ser o mais popular sendo mostrado em muitos documentário.
Já este próximo, o décimo
terceiro, considero o mais difícil, depois de uma subida muito dura iria
encontrar este livro bem no topo e depois de muita procurar não o localizava,
nesta hora procuro um local para me sentar, abro meu mapa e começo a estudar e
foi quando me lembrei de um detalhe, quando calculava as coordenadas não fiz a
correção da região por ser muito pequena, mas percebi que fez diferença e assim
que corrigi localizei o livro perdendo muito tempo.
Vale aqui uma breve explicação,
existe o norte magnético e o norte geográfico e cada região precisa fazer sua
correção no mapa já que a bussola aponta o norte magnético e dependendo da
região a correção é bem grande e como aquela região a correção é 5º pensei em
corrigir durante a corrida, mas acabei esquecendo.
No penúltimo livro peguei uma
forte descida terminando em um rio já ao cair da noite onde encontro com um
atleta Suíço onde paramos por um momento para comer alguma coisa e trocar
algumas palavras, agora imagina a conversa que saiu rsrs.
Segui agora para meu último livro
com a escalada de mais uma forte subida já com o cair da noite e sabia que após
este livro sairia um uma trilha do parque que havia estudado com meu amigo dias
antes da prova, acredito ser este o único ponto que estudei que havia no mapa o
tornando tranquilo.
Pelo tempo já sabia que não
poderia abrir a próxima volta, mas nada iria abalar minha alegria em completar
um loop da prova que havia perseguido por anos e estava muito feliz e chegando
ao Yellow Gate (Portão Amarelo) vejo muitas pessoas me aguardando, minha esposa
fazendo uma enorme festa e ficando aliviada em me ver chegando depois de ver o
atleta argentino retornar após se perder em encontrar com 2 ursos no caminho e
me conhecendo sabia que só iria retornar com minhas 15 páginas.
Jasmim |
Campeão |
Agora queria curtir todos os momentos da prova e acompanhar a chegada de todos atletas, ficando até o final oficial do evento e pude ver 5 atletas concluírem, ano com maior número de concluintes e presenciar mais um fato inédito, a primeira mulher na história da prova a conclui-la e restando pouco mais de 1 minuto para o termino nos dá momentos de pura emoção com a chegada da Jasmim desabando ao chão assim que toca o portão e nessa hora a emoção se transformou em preocupação, mas passado o susto foi hora de comemorar.
E assim foi minha participação na
mais dura e icônica corrida do mundo me sentindo realizado com todos estes anos
de corridas sendo coroado com a Barkley Marathon e agora posso falar, I am a
Barkley!