Acostumado a
participar das ultramaratonas de forma ativa, como atleta, buscando sempre uma
performance de excelência, tive uma das melhores experiências de minha vida
esportiva, servindo de apoio a meu irmão Pedro Luiz e ao amigo Gecier Gomes,
ambos participantes da categoria 135 km da Ultramaratona dos Anjos
Internacional, organizada pela UltraRunner Eventos. A UAI, como é conhecida, já
é considerada uma das ultramaratonas mais difíceis do Brasil, e por que não do
mundo, por suas características de percurso, em estradas de terra cheias de
pedras soltas e uma altimetria bem oscilante, tornando a corrida em um grande
desafio para aqueles que curtem provas de longa distância. A prova contava com distâncias
a partir de 25 km como prova mais curta, até os temidos 235 km, como maior
desafio a ser cumprido, tendo também 65, 95 e 135 km respectivamente, alem dos
revezamentos de algumas destas distâncias. Foi incrível ver no mesmo evento
atletas buscando variadas intensidades e estratégias, percorrendo por muito tempo
o mesmo caminho, confundindo as sensações de quem estava assistindo e o ritmo
de quem estava correndo. Era nítido perceber, que os atletas se misturavam, um
puxando o outro, tornando o ritmo das provas mais longas mais intensas, num
contagiante espírito de companheirismo, deixando marcado o quanto a amizade faz
parte da ultramaratona brasileira. Ao lado de minha cunhada Claudia, minha missão
era auxiliar Pedro e Gecier, conduzindo o carro de apoio, disponibilizando tudo
que fosse necessário, para ambos completarem os 135 km da prova. Os dois atletas
possuíam praticamente o mesmo ritmo, algo que ajudaria muito a nossa tarefa.
Claro que auxiliaríamos aqueles que precisassem de nossa ajuda, mesmo que
desconhecidos. Desde a largada, os dois atletas amigos correram lado a lado,
puxando o ritmo na maioria do tempo, mas segurando quando necessário. O carro
de apoio percorria ao lado dos atletas, tornando a prova muito divertida, pela
interação entre corredores com suas equipes, misturados nas belíssimas estradas
do Sul de Minas Gerais. Aplicando a estratégia estipulada pela dupla, Pedro e
Gecier foram engolindo os quilômetros e suas dificuldades, mantendo suas integridades
físicas preservadas, chegando até o último posto de controle, local onde se despediram
do carro de apoio, devido o mesmo não conseguir passar, por ser um trecho de
preservação ambiental, deixando os atletas sozinhos, sem suporte, em plena
madrugada, em estradas e trilhas acidentadas, difíceis de percorrer. Quando já
estavam prontos para seguir viagem, buscando percorrer os últimos 40 km e
concluir a prova, Pedro e Gecier ganharam a companhia de mais um guerreiro e
amigo, Cordeiro Ananias, que também estava na mesma categoria deles, seguindo
juntos no mesmo objetivo. Cordeiro havia passado mal horas antes, com uma queda
de pressão, sendo auxiliado pelo suporte de outros atletas e brilhantemente se
recuperando, com muita determinação, voltando pra prova. Quando faltava
aproximadamente 20 km, os três estavam juntos, um incentivando o outro,
exalando companheirismo e amizade, sem se importarem se estavam ou não
disputando posições. Nesse momento, Cordeiro passou mal mais uma vez, tendo
problemas gastro intestinais, sucumbindo ao vômito, mergulhando num intenso mal
estar. Mais uma vez, ele superou as dificuldades, incentivado por Pedro e
Gecier, percorrendo juntos o restante da prova, completando os dificílimos 135 km,
colocando mais uma ultramaratona em seus currículos, a ultramaratona da
AMIZADE.
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