Quão difícil e
doloroso deve ser um atleta, de qualquer esporte, saber que nunca mais participará da competição que mais gosta, não fará mais
parte da festa que envolve cada evento esportivo, não ao menos como atleta.
Confesso que me emocionei ao ver Gustavo Kuerten, em sua última participação em
Roland Garros, ao ser eliminado, já tendo declarado que se aposentaria do
circuito profissional de tênis, despedindo-se daquelas quadras que trouxeram
tantas alegrias há um dos maiores tenistas brasileiros. Certamente ele sabia
que estaria muitas vezes, como convidado da organização, participando do
evento, mas não mais como atleta, dando seu máximo naquele saibro, independente
do tamanho de sua chance de ser campeão. O quanto isso deve lhe ter entristecido,
confundindo o seu ser, na reorganização de sua identidade. Outra cena que não sai
da minha memória foi a despedida de Oscar Schmidt da seleção brasileira de basquete,
nos jogos olímpicos de Atlanta de 1996. A camisa verde e amarela era
praticamente a segunda pele dele, sendo considerado por muitos o melhor jogador
brasileiro de basquete de todos os tempos. Ainda dentro de quadra, Oscar deu
uma emocionante entrevista a uma emissora de televisão, descrevendo com muitas lágrimas
o que sentia, o quanto difícil seria pra ele não estar mais presente no cenário
que ele amava e fazer parte daquela festa. Esse tipo de dor acaba sendo bem
dissipada pelos atletas de alta performance de corridas de rua. É muito comum
vermos ex corredores de elite, participando de provas que o consagraram no auge,
mesmo que apenas pra participar da prova, buscando saúde, qualidade de vida, ou
entrar na máquina do tempo e sentir a sensação de levar seu corpo ao máximo do
esforço físico, o vento batendo contra o rosto, travando uma batalha incessante
contra o cronômetro e cruzar o pórtico de chegada, aquele mesmo que anos antes
cruzara em primeiro lugar, mas agora em outra realidade, o objetivo torna-se
fazer o seu máximo, sem se preocupar em qual posição possa ter chegado. Por várias
vezes, vi o lendário José João, bi campeão da São Silvestre, muitos anos após
seu período de conquistas, lutando consigo mesmo, brigando por segundos, para
fazer um tempo muito mais alto que seu recorde pessoal, mas tão importante
quanto, numa grande amostra de espírito esportivo, mostrando que fazer seu máximo
faz parte de seu DNA, independente da posição que chega. Sem falar na brilhante
corredora e admirável pessoa, Maria Zeferina Baldaia, que mesmo ainda estando
em excelente preparo físico, ainda brigando por vitórias em corridas pelo
Brasil, está distante do preparo físico do seu auge, que lhe renderam
conquistas em provas tradicionalíssimas, botando seu nome na história do
pedestrianismo brasileiro. Será que outros atletas, de outros esportes,
permaneceriam ativos, mesmo não estando em seu ápice, não tendo condições de alcançar
suas melhores marcas e feitos? E daqui uns 20 anos, será que Maria Zeferina
ainda estará participando de São Silvestre, Maratona de São Paulo e afins, provas
em que esteve no lugar mais alto do podium? Pessoas comuns terão a oportunidade
de correr ao lado dela, e até chegar na frente. Isso proporciona um algo a mais
para a corrida de rua. Bem que eu gostaria de jogar uma partida de tênis com
Roger Federer, mesmo que não fosse um jogo oficial, numa simples partida
amistosa. Está certo que isso seria mais difícil do que parece, pois nem ao
menos sei jogar tênis, nunca sequer portei uma raquete. Não deixa de ser um
sonho. Assim, podemos dizer que nós, corredores de rua amadores, somos privilegiados,
por estarmos participando da mesma prova daqueles atletas que admiramos, mesmo
que muito distantes durante a corrida, podendo até mesmo estar correndo ao lado
de um multi campeão do passado, nos proporcionando muitas histórias pra contar.
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