- Em Abril de 2017, quando
estávamos em uma prova, meu irmão Pedro Luiz demonstrou pela primeira vez,
durante uma conversa, a intenção de realizar a BadWater Ultramarathon, no
deserto do Vale da morte, nos Estados Unidos. Iniciava-se assim, um sonho a ser
realizado, onde exigiria etapas essenciais a serem cumpridas. Por volta de
Julho do mesmo ano, ele decidiu que realmente tentaria estar presente na edição
de 2018 da prova americana. Para isso precisaria de índice em provas
classificatórias. A princípio, sua escolha havia sido conseguir o índice nas 24
horas de Campinas, percorrendo a distância mínima, em uma prova relativamente
tranquila, sem correr grandes riscos. Mas uma lesão muscular o tirou da prova escolhida,
tornando a missão um pouco mais difícil. Nosso foco seria outro: Realizar a
BR135 em janeiro de 2018, conseguir o índice, se recuperar dos efeitos de uma
prova extremamente desgastante e iniciar uma preparação com tempo justo, para
chegar na Badwater em Julho. Recuperado da lesão muscular, mas ainda sem muito
ritmo, Pedro realizou algumas provas menores, para ganhar condicionamento
necessário e concluir a Br135 em menos de 40 horas. Foi uma preparação difícil,
onde ele demorou para voltar em suas condições normais, mas mesmo aos “trancos
e barrancos”, chegou para enfrentar a BR e conseguir seu índice desejado e se
aproximar de seu sonho. Mesmo não sendo sua melhor apresentação na Brazil 135,
Pedro conseguiu o tão desejado índice que precisava e após de um pouco da boa e
velha burocracia, seu nome estava presente entre os selecionados da prova que
muitos classificam como “a prova mais difícil do mundo”. A grande dificuldade
não seria a distância, a qual o Pedro tem realizados por diversas vezes, mas sim
a alta temperatura e baixa humidade que enfrentaria no vale da morte. Após uma
grande reestruturação de seu treinamento, ele foi entrando em um
condicionamento em que nunca havia estado antes, rápido, forte e resistente,
principalmente após uma adequação nutricional extremamente competente, que
potencializou sua performance, fazendo-o chegar muito bem preparado para
encarar a BadWater.
A VISÃO DO ATLETA- Por Pedro Luiz Cianfarani
- Consegui
completar esta que foi a mais difícil de todas as edições, devido ao calor
extremo, com incríveis 56 graus causando o maior número de desistências da
história da prova. Minha estratégia seria aproveitar a noite, para me poupar na
região mais quente da prova, por estar a quase 90 metros abaixo do nível do
mar. Então, com um ritmo mais forte, tentei aproveitar a noite para me livrar
desta região bem quente, mas chegando no posto de controle número 2, reparei
que tinha fugido da minha característica de cadenciar a prova em um ritmo mais
confortável. Com isso, tive que rever meu ritmo se quisesse terminar a prova e
neste momento estava com 42 milhas rodas. Nessa hora, um filme passou pela
minha cabeça, pensando em todo treino e em todas as pessoas envolvidas nesse
desafio. Ajuntei todas as minhas forças
e recalculei a estratégia. Dei uma parada afim de retomar o fôlego e pegar
a primeira grande subida, com aproximadamente 19 milhas (30 km), tendo que iniciar
minha recuperação em plena subida, com umas 8 milhas bem preocupantes, mas
treinei muito para estes momentos e na segunda metade desta subida interminável
fui me recuperando e vencendo este primeiro obstáculo, conseguindo encaixar um
ritmo confortável e constante até chegar no ponto mais quente da prova, com 56
graus na milha 70 aproximadamente. Nessa hora, o vento queimava o rosto, me
forçando a correr com um lenço úmido no rosto, óculos e uma toalha úmida na
cabeça debaixo do boné e tudo isso tive que molhar em no máximo 10 em 10
minutos. Claro que tudo orquestrado pela minha equipe de apoio formada pela
minha esposa Claudia e minhas amigas Ângela e Carle. Após uma breve parada na
milha 72, para alimentação e cuidado dos pés, que realmente são muito exigidos
devido ao calor, parti para a segunda subida, esta com uma inclinação bem menor
e eu já recuperado do ritmo inicial e recuperando um bom terreno perdido. Ao
cair da segunda noite, minha amiga Ângela, que estava me acompanhando desde a
milha 42, onde era permitido a presença de pace, foi descansar no carro e minha
esposa Claudia permaneceu ao meu lado nas próximas 12 horas, ocasionando um momento
muito prazeroso da corrida, ou seja, estava bem na prova (recuperado) e
correndo com minha companheira e amiga Claudia. Confesso nem ter percebido
passar estas 12 horas. Pedi para minha esposa descansar no carro, voltando
minha amiga Ângela para fazer a última e pesada subida com maior grau de
inclinação e suas intermináveis 13 milhas. Nessa hora, não existe mais
estratégia nem cansaço apenas a vontade de terminar e agradecer todos que
ficaram aqui no Brasil torcendo por mim, todos amigos de ultamaratona nas redes
sociais, minha equipe dos Ultraloucos, familiares e principalmente meu irmão
Beto, que estava aqui apreensivo, sem contar é claro, minha fantástica equipe
de apoio comandada pela minha amada esposa Claudia e minhas amiga Ângela e
Carle. Confesso que terminei esta prova por todos vocês e nunca me emocionei
tanto em uma prova e de maneira alguma iria decepcioná-los. Obrigado a todos pela força e por me ajudarem na
realização de um sonho. Aguardar mais desafios!
A VISÃO DO APOIO- Por Cláudia Siola Cianfarani
- Participar de uma ultramaratona
como apoio começa muito antes da largada da prova. O desafio começa com os
preparatórios, desde a compra de alimentos, bebidas, suplementos, o que será
utilizado para o atleta, até a logística com as passagens aéreas, hospedagem e
aluguel do carro. Uma das principais preocupações é ir para um lugar
desconhecido, outro país, adaptação do clima e altitude. O calor era insano!!
Nunca tinha sentindo tanto calor. Chegamos em Las Vegas com uma semana de antecedência
para fazer as compras e aclimatar. Quando chegamos em Furnace Creek, local da
prova, a temperatura era maior ainda! Não conseguia imaginar como seria correr
com aquela temperatura! No dia da largada organizamos o carro poucas horas
antes, porque o calor era tanto, tudo esquentava lá dentro. Era preciso manter
o ar condicionado ligado por todo o tempo. Tudo pronto, chegada a hora. Quanta
emoção, preparar tudo, lembrar de todos os detalhes, apoiar o meu amor na
realização de seu sonho. Dada a largada, a adrenalina aumenta, os minutos foram
passando e tudo foi voltando ao equilíbrio. Calor intenso, agora é acompanhar o
atleta, seguir a planilha de alimentação, hidratação, suplantação, comprar
gelo, abastecer o carro, obedecer o regulamento da prova para dirigir e estacionar
o carro para o atleta não ser penalizado, pois três descumprimentos ele deveria
ficar por uma hora parado. Me sentia com muita responsabilidade para que tudo
acontecesse como o planejado. Como estava muito bem treinado e se sentindo
preparado, o Pedro começou a prova com um ritmo muito forte, isso fez com que
ele errasse na estratégia. Depois de um longo trecho, começou a se sentir
cansado, seu ritmo diminuiu, momento em que precisei manter o equilíbrio e
incentivá-lo. Logo recuperou seu ritmo. Ao anoitecer, no primeiro dia, ele
cogitou em parar para dormir um pouco e descansar. Conhecendo-o, sugeri que
seguisse e me ofereci para acompanhá-lo. Percorremos por 12 horas juntos,
experiência indescritível, jamais imaginava que conseguiria acompanhá-lo, me
senti muito realizada por superar meus limites e poder percorrer este percurso.
Depois de 41 horas de prova cruzamos a linha de chegada, experiência incrível
que levarei para sempre, uma satisfação pessoal poder contribuir na conquista
de um sonho. Obrigada meu amor por me dar esta oportunidade!
Nenhum comentário:
Postar um comentário