sábado, 28 de dezembro de 2024

A Trilha dos Sete Degraus: De Cunha a Paraty Correndo Pela Serra da Bocaina - Por Pedro Cianfarani

Trilha dos 7 Degraus
 Recentemente, estive em Cunha, interior de São Paulo, para uma viagem turística com a Claudia. Fomos visitar os famosos lavandários, as lojas e fábricas de cerâmica, além de aproveitar o ecoturismo em parques bem estruturados da região. Entre esses passeios, subimos até a Pedra da Macela, um dos pontos mais conhecidos da cidade.


Durante essa subida, reparei na entrada de uma trilha e notei que havia uma placa indicando quatro caminhos. Conversando com o segurança do parque, ele explicou que duas trilhas eram curtas, com cerca de 200 metros e 1 km, enquanto outras duas eram mais longas e desciam em direção a Paraty. Uma delas era a Trilha do Rio Pequeno, que terminava na BR, e a outra era a Trilha dos Sete Degraus, que chegava até bem próximo de Paraty, a cerca de 8 a 10 km do centro histórico.

Aquilo ficou na minha cabeça. Como amante de corrida, não podia deixar passar essa oportunidade. Conversando com a Claudia, propus um plano: no dia seguinte, enquanto ela seguiria de carro até Paraty, eu faria a trilha correndo e nos encontraríamos na cidade.

A ideia estava lançada. Corri atrás de informações sobre a trilha na internet, mas encontrei pouca coisa. Além disso, eu não tinha levado nenhum equipamento adequado: nem bermuda de corrida, nem camiseta específica, mochila de hidratação ou squeezes. Tive que improvisar. Arrumei uma bolsinha que consegui amarrar nas costas, levei água, fiz um bom café da manhã na pousada e, com um mapa salvo no celular, estava pronto para começar.

A Claudia me deixou na própria rodovia que leva até Paraty, cerca de 5 km antes da entrada do parque. A partir dali, segui por uma estrada de terra até alcançar o início da trilha. E foi então que começou a aventura.

Logo ao entrar na trilha, uma chuva forte começou a cair, lavando a alma e transformando aquele treino em algo ainda mais especial. No início, o caminho era relativamente tranquilo, com apenas algumas pedras pelo chão. Passei por uma fazenda, atravessei um curral com gado pastando e, ao cruzar uma porteira, continuei por um caminho que parecia ser uma antiga estrada, agora tomada pela vegetação.

A chuva dificultava bastante a visibilidade do mapa no celular. A tela molhada e a água escorrendo nos olhos tornavam cada consulta um desafio. Cheguei até uma segunda porteira, onde dois caminhos surgiram à minha frente. Após uma pausa para secar o celular e conseguir enxergar melhor o mapa, percebi que precisava pegar à direita, subindo uma trilha íngreme.
Serra da Bocaina



Quase no topo dessa subida, encontrei galhos caídos bloqueando parcialmente a trilha. Sem perceber, acabei desviando do caminho certo. Depois de alguns minutos procurando e com a ajuda do mapa no celular, consegui voltar à trilha correta.

Daquele ponto em diante, o caminho ficou mais claro e bem demarcado, mesmo sem sinalização. Segui com mais tranquilidade até me deparar com um trecho histórico: o Caminho do Ouro.

Esse trajeto secular, com pedras assentadas e muros de contenção nas laterais, trazia uma atmosfera única. Apesar do abandono evidente, era impossível não sentir a história impregnada naquele chão. A descida era extremamente técnica. As pedras, já naturalmente escorregadias, estavam ainda mais perigosas devido à chuva constante e à água que escorria pela trilha. Cada passo exigia cautela máxima.

Enquanto descia, percebi que o tempo estava passando mais rápido do que eu previa. Havíamos combinado que o trajeto levaria cerca de duas horas e meia, mas eu já estava próximo desse tempo e ainda tinha chão pela frente.

Foi então que o celular finalmente pegou sinal. Aproveitei para mandar uma mensagem de voz para tranquilizar a Claudia e avisei que estava tudo bem, mas que o percurso estava mais lento do que eu esperava.

Logo após a longa descida, cheguei à margem de um rio. Com as chuvas, o nível da água estava alto e exigiu cuidado extra para atravessar. Mas foi quase um ritual. A água gelada trouxe alívio e energia renovada, e aproveitei para me lavar antes de seguir viagem.

Paraty- RJ

Pouco depois, alcancei uma estrada de terra já dentro da Fazenda Pedra Branca, responsável por parte do abastecimento de água de Paraty. Dali em diante, o caminho era meu ambiente favorito: um estradão largo, perfeito para encaixar um ritmo constante de corrida.


A cidade já estava próxima. Cruzei meu ponto de encontro com a Claudia após 23 km de corrida, concluídos em pouco menos de 3 horas.

A sensação de chegar ao fim daquele treino foi indescritível. Mesmo durante uma viagem de lazer, consegui encaixar algo que amo fazer: correr. Foi um treino desafiador, repleto de obstáculos, mas também de momentos únicos e paisagens deslumbrantes.