Sexta-feira, véspera do primeiro treino pra ultramaratona
que iria fazer, e comecei a sentir a garganta raspar... logo começaram a vir os
calafrios, dores no corpo, febre... me deitei e já pensei que não conseguiria acordar
no dia seguinte para o treino... foi quando minha mãe veio com um chá de leite
queimado com canela, receita que ela viu na internet e seria boa para a
garganta... bom, não custava nada tomar... fui e tomei, e tinha que tomar muito
quente, mesmo queimando o céu da boca todo, senão não faria efeito... e eu que
não esperava nada, em minutos, a febre começou a baixar, o corpo a recuperar e
peguei no sono... suei a noite toda e quando acordei para o treino parecia que
nunca tinha ficado doente! Me arrumei e fui para o maior desafio que já tive,
afinal, o máximo que já havia corrido foram 42 kms, a maratona de SP...
Só sei que quando você ler em algum lugar que
ultramaratona é surreal, que o corpo tem que estar muito bem preparado, só não
mais que o psicológico, acredite... e cada km vale, cada km tem uma história
diferente, cada km tem uma dor diferente e uma motivação diferente... do km 1
ao 17 até a primeira balsa, estava muito bem, subindo todas as pirambeiras bem
tranquilo, porém quando chegou a primeira balsa e sentei, o corpo já relaxou,
as pernas sentiram e do km 17 ao 29 foi bastante sofrido e de administração...
tinha tomado um gel no km 15, outro no 30 (agora sei que preciso suplementar
melhor para aguentar bem), mas o que me salvou por incrível que pareça foi a
coca-cola com toda sua cafeína e sódio! Nos outros 7 kms até a terceira balsa
estava novo em folha! Aí aconteceu algo que eu já sabia, porém não estava
acostumado... almoçar no meio do treino para aguentar a volta! Macarrão com
ovo! E tem que comer, porque depois dos 30 kms, a quantidade de nutrientes
perdidas é algo preocupante! Eu nunca tinha voltado ou começado a correr logo
após uma refeição e para mim foram 2 kms de dores abdominais insuportáveis e
que me faziam andar! aí chegamos no temido rodoanel, quase 10 kms de rodovia
que parecia que nunca vai acabar e a surpresa! Assim que entrei comecei a dar
um gás em 3 kms que eu mesmo não acreditei e me fizeram pensar que até o fim do
longão, não ia sentir nenhuma dor... ledo engano! Do 45 até o final minhas
pernas fadigaram de tal maneira que fui ao inferno e voltei várias vezes! O
aplicativo marcou ao final do treino 63,8 kms, então foram quase 19 kms rezando
para terminar, pois andar era muito difícil com as pernas extremamente
fadigadas, mas não dava para correr o tempo todo, então ficava nesse dilema...
esses quase 19 kms ficaram totalmente por conta do psicológico, porque por
várias vezes reclamei que não terminava o Rodoanel ou a Anchieta, pensei em
pedir um Uber ou me perguntei se ali onde estava passava Uber, ou simplesmente
parar ali mesmo e me jogar no chão até dormir... passou tudo pela cabeça! Mas
nessa hora, você só tem um objetivo, aponta nele e vai! E quem me ajudou demais
nessa hora foi o Dicler, que ficou comigo o tempo todo com um sorriso no rosto,
que dizia, “estagiário, sei o que você está sentindo, já passei por isso e sei
que você também consegue superar” ou quando na Anchieta me disse, “eu sempre
miro um objetivo ao longe quando estou cansado e vou, que nem aquele poste lá ao
longe, vou começar a correr de novo a partir dele”... coisas simples que fazem
um efeito muito grande psicologicamente. Agradeço demais, além do Dicler, ao
Parreira e ao Pedrinho, companheiros dessa loucura e que me fizeram e fazem
cada vez mais amar maratonas e ultramaratonas, e que compartilham comigo toda
sua experiência e dicas que salvam! Correr mais de 60 kms é possível sim e uma
experiência que vale a pena ser vivida!
Muito bom ! Cada km vale apena.
ResponderExcluirUso essa estratégia tb..
ResponderExcluirSó até o próximo poste, ou árvore, ou conchinha.. rsrs