Um novo formato para
a BR135
A edição de 2025 veio com uma grande novidade: agora, todos os atletas se inscreviam para 150
milhas (241 km), mas havia pontos de corte opcionais. Quem não conseguisse
seguir até o final não precisava
abandonar completamente a prova, podendo concluir em distâncias menores e
ainda receber a medalha correspondente. O percurso foi dividido assim:
• 55 milhas (88 km) – até Inconfidentes
• 80 milhas (129 km) – até Tocos do Mogi
• 100 milhas (161 km) – até Estiva
• 120 milhas (193 km) – até Paraisópolis
• 135 milhas (217 km) – até Luminosa
• 150 milhas (241 km) – chegada em Paraisópolis
Outra mudança importante foi na largada, que aconteceu em Águas da Prata, ao invés de São João da
Boa Vista. Isso acrescentou um trecho novo e ajustou a distância final da
prova. Apesar dessas mudanças, o nome
Brazil 135 foi mantido, mesmo agora sendo uma prova de 150 milhas (241 km).
Uma preparação que
quase não existiu
Por ser minha última participação solo, eu queria fazer minha melhor prova. Mas, como o destino adora
testar nossa resiliência, tudo mudou em
dezembro. No meu último treino longo até Bertioga, uma velha lesão no joelho voltou a incomodar. Resultado? Fiquei praticamente um mês sem treinar.
Minha preparação se resumiu a fortalecimento, gelo e muita massagem, tentando deixar o joelho
minimamente funcional para encarar os 241
km. Ou seja, larguei para minha última BR135 sem treinos e sem preparo algum. E aí, já dá para imaginar que essa
prova seria uma das mais difíceis que eu já encarei…
Equipe fechada,
emoção no congresso técnico e largada
Para essa minha última participação solo, montei minha equipe com dois grandes
parceiros de sempre: minha esposa Claudia e meu irmão Beto. Mas dessa vez,
tive um reforço especial: meu amigo de
treino Emerson, que veio para somar nessa jornada de 241 km.
A emoção já começou no
congresso técnico, no dia 8 de janeiro. O organizador entregou uma medalha
especial para os atletas com mais de 10
participações, e eu fui um dos homenageados, com minhas 12 participações anteriores. Agora,
estava pronto para a 13ª e última solo.
Depois do congresso, fui para o hotel fazer os últimos preparativos e garantir um bom descanso antes da largada. Sabia
que, com minha lesão no joelho e a falta de treinos, teria que administrar cada quilômetro com inteligência.
Largada e um começo
diferente
No dia 9 de janeiro, lá
estava eu na largada, em Águas da Prata, com destino à primeira cidade do
percurso, Andradas. O clima era de
reencontro, com muitos amigos das
antigas aparecendo para prestigiar a 20ª
edição da BR135. Era uma largada especial, cheia de energia e lembranças.
Assim que a prova começou, saí com minha estratégia de sempre: ritmo constante, tranquilo, sem
exageros. Mas logo percebi que essa edição
tinha um perfil bem diferente das anteriores.
Nas edições passadas, largávamos de São João da Boa Vista e já encarávamos a temida Serra do Deus Me Livre, um paredão que exigia muito logo de
cara. Dessa vez, essa serra ficou de
fora, e o percurso começou de forma mais suave. A primeira grande subida
viria apenas no Pico do Gavião, mas
nessa altura já estávamos bem aquecidos, o que deixou a escalada mais
tranquila.
Com isso, chegamos em
Andradas muito mais inteiros do que nos anos anteriores, sem aquele
desgaste inicial brutal. Em provas passadas, Andradas já era um ponto onde o cansaço começava a pesar, mas desta
vez foi diferente. O trajeto até lá foi bem fluído, sem muitas dificuldades.
Depois de Andradas, veio a Serra dos Limas, uma subida curta, de pouco mais de um quilômetro.
Nada que se comparasse ao que enfrentávamos antes. Os trechos seguintes foram relativamente tranquilos, passando por Crisólia, Ouro Fino e até Inconfidentes,
onde estava o primeiro PC para quem quisesse encerrar a prova com 55 milhas (88
km).
E realmente, muitos
atletas optaram por parar ali, aproveitando essa nova estrutura da prova.
Mas para mim, aquele era apenas o começo
da jornada. Eu ainda tinha muitos
quilômetros pela frente.
O verdadeiro teste:
as descidas intermináveis
Se até Inconfidentes o percurso tinha sido tranquilo, a
partir dali começaria a verdadeira prova
para mim e, principalmente, para o meu joelho. O caminho rumo a Borda da Mata marcava o início das subidas e descidas intermináveis, e eu sabia que nas descidas é que
sentiria mais o impacto da lesão.
Curiosamente, nas subidas ou trechos planos eu não sentia
nada, mas bastava começar uma descida para perceber que precisaria administrar muito bem a dor e o esforço.
Então, minha estratégia seguiu a mesma: ritmo
controlado, sem exageros, focado em completar a prova.
Entre Borda da Mata e
Tocos do Moji, eu ainda me sentia bem, com disposição sobrando. Mas sabia que os desafios de verdade ainda estavam à minha frente. Esse
trecho já me deu um indicativo de que as descidas cobrariam um preço alto,
então precisei redobrar a atenção
para não forçar demais.
A partir desse momento, minha
equipe começou a me acompanhar mais de perto. Beto, Emerson e Claudia revezavam
a companhia ao meu lado, principalmente agora que a noite se aproximava. Era um
grande diferencial ter esse apoio, pois me mantinha motivado e focado.
Mesmo precisando segurar o ritmo nas descidas, meu desempenho
seguia sólido e controlado. O grande
desafio era manter a paciência e a
disciplina, respeitando o que meu corpo estava me dizendo.
Surpresa no percurso:
desvio inesperado e calor intenso
Quando chegamos a Estiva,
fomos surpreendidos por uma mudança no percurso. As fortes chuvas que
antecederam a prova derrubaram uma ponte,
forçando a organização a criar um desvio
de aproximadamente 9 km.
Ou seja, a prova ficou ainda
mais longa do que os já tradicionais 241 km. Mas fazer o quê? Era mais um obstáculo a ser superado, e
seguimos em frente.
O problema foi que, nesse trecho, o calor estava insuportável. A BR135 sempre testa seus
participantes de todas as formas, e o calor extremo foi um dos maiores desafios desta edição. Nessa hora, a hidratação
e a reposição de eletrólitos foram essenciais para evitar problemas.
Normalmente, ao final do dia, a prova é marcada por pancadas de chuva, mas, por sorte, não peguei nenhuma tempestade. Vi algumas
formações de chuva pesadas se aproximando, mas consegui escapar delas todas as
vezes.
A brutalidade da
Serra do Caçador
Após vários trechos com serras menores, finalmente cheguei a
um dos trechos mais temidos da prova: a
Serra do Caçador.
Foram quase 4 km de
subida ininterrupta, um verdadeiro teste de resistência e preparo físico. A musculatura respondeu muito bem, pois
eu havia treinado bastante essa parte.
O problema veio na
descida rumo a Consolação.
Ali sim meu joelho
começou a dar sinais mais evidentes do impacto da lesão. Cada passo na
descida era um lembrete de que eu precisava administrar a dor, pois ainda havia
muitos quilômetros pela frente.
A BR135 sempre nos lembra que ninguém passa por ela sem sofrimento. Eu já sabia disso, mas agora
era hora de lidar com essa realidade
e continuar.
O questionamento em
Consolação
A poucos quilômetros de Consolação, meu pensamento começou a mudar. Até ali, eu estava focado em
completar as 150 milhas, mas, com as descidas cobrando cada vez mais o preço no
meu joelho, pela primeira vez comecei a
reconsiderar meu plano.
Eu já havia passado por Tocos
do Moji (80 milhas), Estiva (100 milhas) e agora me dirigia para Paraisópolis (120 milhas). O trecho
entre Consolação e Paraisópolis era
majoritariamente plano, e foi ali meus pensamentos começaram a pesar mais do que o corpo.
Quando vi minha equipe parada para me dar hidratação e
suplementos, chamei todos e perguntei:
A resposta foi unânime e imediata:
— Imagina! A gente
está vendo o que você está passando nas descidas. Ainda tem um trecho gigante
de descida no final. Pensa bem! Estamos com você.
Era tudo o que eu precisava ouvir. Ainda faltava chão para
tomar uma decisão definitiva, mas algo
já havia mudado dentro de mim.
Decisão tomada
Foi nesse momento, num trecho plano antes de Consolação, que
meu corpo tomou a decisão antes da minha
mente.
Aumentei o ritmo.
Meu irmão, que estava me acompanhando, percebeu na hora.
— Já decidiu o que
vai fazer, né? — perguntou ele, rindo.
— Já. Vou parar nas
135 milhas.
A decisão estava tomada. Segui firme, sabendo que meu objetivo agora era outro: fechar mais
uma Brasil 135 no currículo, respeitando meus limites e saindo de cabeça
erguida.
A chegada em
Paraisópolis e a última grande subida
Chegando em Paraisópolis
(120 milhas), encontrei a organização e vários amigos que já haviam
finalizado suas provas, muitos deles em revezamento. Vários me pediram para
repensar minha decisão e parar nas 120 milhas, já que o trecho até Luminosa seria uma sequência brutal de descidas.
Mas eu já tinha a
resposta pronta:
— Quero fechar mais
uma Brazil 135.
Minha equipe, já exausta pelo tempo dentro do carro, começou
a me esperar mais adiante. Eles sentiam o cansaço acumulado de horas sem
dormir, mas eu ainda estava na
adrenalina e focado na chegada.
A última descida e o
fechamento da jornada
A descida para
Luminosa foi a pior parte. Dolorida,
exigente, lenta. Cada passo era calculado para não forçar demais o joelho e
evitar uma lesão ainda maior.
Mas a chegada estava logo ali.
Quando finalmente cruzei a linha de chegada, foi com um
misto de alívio e satisfação.
Mesmo assim, conquistei a 6ª colocação nas 135 milhas. Se tivesse continuado para as 150,
estaria muito bem posicionado também.
Mas eu não precisava
mais provar nada para ninguém.
Missão cumprida e
agradecimentos
Na 20ª edição da
Brazil 135, minha 13ª participação
solo, completei minha última prova nessa distância.
O regulamento permitia parar em outras distâncias sem ser
desclassificado, então finalizei minha jornada sem arrependimentos.
Mas essa conquista não
foi só minha. Nada disso seria possível sem minha equipe de apoio, que
esteve comigo do início ao fim, garantindo que eu me mantivesse forte e focado.
Meu agradecimento
especial à minha esposa Claudia, ao meu irmão Beto e ao meu amigo Emerson.
Vocês foram meus
anjos da guarda durante essa jornada. É como sempre digo: nessas provas, a gente não é ninguém sem a
nossa equipe de apoio. E vocês fizeram toda a diferença.
O que vem pela
frente? Novidades em 2026!
E agora? A Brasil 135
não acabou para mim, apenas mudou de formato.
Ano que vem, vem
novidade por aí.
O casal Cianfarani
estará na Brazil 135 de 2026 – em dupla!
Aguardem novidades!
Um abraço a todos e
até a próxima linha de chegada!
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