quarta-feira, 27 de julho de 2016

Enfrentando o Vale da Morte - por Pedro Luiz Cianfarani

Para muitos ultramaratonistas, sem dúvida, a badwater é a corrida dos sonhos e não é diferente para mim. Neste ano, fui convidado pelo amigo João Morelli a ir de apoio (Pace) com ele para Badwater e sem pensar aceitei o convite.
O que ouvimos sobre a prova é que ela acontece no deserto da Califórnia e grande parte no Vale da Morte, um dos lugares mais quentes do mundo. Chegando lá, percebemos de imediato ser um lugar muito quente. Em 2014 ele já havia participado, mas devido a uma desidratação, João Morelli foi tirado da prova, pela equipe médica. Mesmo assim, ele também se assustou com o calor, já que em 2014 a prova não aconteceu no vale da Morte, sendo corrida toda ela em Lone Pine, com uma temperatura mais amena.
A chegada alguns dias antes foi fundamental para aclimatar, não sentindo tanto a temperatura no dia da largada e assim foram as 135 milhas (217km ) do percurso, com o calor mais castigante na largada, devido a altitude de 87 metros abaixo do nível do mar e claro quando o sol se aproximava do meio dia em diante. João Morelli lutou bravamente e engoliu milha a milha, terminando o desafio em 40:33, primeiro dos 3 brasileiro da prova.
Muito mais que o calor, a quem diga que são as 3 subidas intermináveis o maior obstáculo da prova:
A primeira com seus 27 km de distância, saindo de 0 (nível do mar) a 5000 pés. A segunda com seus 29 km de distância, saindo de 1650 pés a 5000 embora não constante. Já a terceira, sendo a mais íngreme, sendo no trecho final, com seus 20 km de distância, saindo de 3600 pés para 8400.
Realmente é uma prova maravilhosa e com um visual lindo, ainda mais que pegamos uma lua cheia belíssima, não precisando correr de lanterna, tamanha claridade.
Deixo aqui meus parabéns ao guerreiro João Morelli e agradeço a oportunidade em participar desta prova mágica, agradecendo também ao amigo que dividiu o apoio comigo, formando o time, Edson Nascimento.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

UAI - Ultra dos Anjos 135 km

Acostumado a participar das ultramaratonas de forma ativa, como atleta, buscando sempre uma performance de excelência, tive uma das melhores experiências de minha vida esportiva, servindo de apoio a meu irmão Pedro Luiz e ao amigo Gecier Gomes, ambos participantes da categoria 135 km da Ultramaratona dos Anjos Internacional, organizada pela UltraRunner Eventos. A UAI, como é conhecida, já é considerada uma das ultramaratonas mais difíceis do Brasil, e por que não do mundo, por suas características de percurso, em estradas de terra cheias de pedras soltas e uma altimetria bem oscilante, tornando a corrida em um grande desafio para aqueles que curtem provas de longa distância. A prova contava com distâncias a partir de 25 km como prova mais curta, até os temidos 235 km, como maior desafio a ser cumprido, tendo também 65, 95 e 135 km respectivamente, alem dos revezamentos de algumas destas distâncias. Foi incrível ver no mesmo evento atletas buscando variadas intensidades e estratégias, percorrendo por muito tempo o mesmo caminho, confundindo as sensações de quem estava assistindo e o ritmo de quem estava correndo. Era nítido perceber, que os atletas se misturavam, um puxando o outro, tornando o ritmo das provas mais longas mais intensas, num contagiante espírito de companheirismo, deixando marcado o quanto a amizade faz parte da ultramaratona brasileira. Ao lado de minha cunhada Claudia, minha missão era auxiliar Pedro e Gecier, conduzindo o carro de apoio, disponibilizando tudo que fosse necessário, para ambos completarem os 135 km da prova. Os dois atletas possuíam praticamente o mesmo ritmo, algo que ajudaria muito a nossa tarefa. Claro que auxiliaríamos aqueles que precisassem de nossa ajuda, mesmo que desconhecidos. Desde a largada, os dois atletas amigos correram lado a lado, puxando o ritmo na maioria do tempo, mas segurando quando necessário. O carro de apoio percorria ao lado dos atletas, tornando a prova muito divertida, pela interação entre corredores com suas equipes, misturados nas belíssimas estradas do Sul de Minas Gerais. Aplicando a estratégia estipulada pela dupla, Pedro e Gecier foram engolindo os quilômetros e suas dificuldades, mantendo suas integridades físicas preservadas, chegando até o último posto de controle, local onde se despediram do carro de apoio, devido o mesmo não conseguir passar, por ser um trecho de preservação ambiental, deixando os atletas sozinhos, sem suporte, em plena madrugada, em estradas e trilhas acidentadas, difíceis de percorrer. Quando já estavam prontos para seguir viagem, buscando percorrer os últimos 40 km e concluir a prova, Pedro e Gecier ganharam a companhia de mais um guerreiro e amigo, Cordeiro Ananias, que também estava na mesma categoria deles, seguindo juntos no mesmo objetivo. Cordeiro havia passado mal horas antes, com uma queda de pressão, sendo auxiliado pelo suporte de outros atletas e brilhantemente se recuperando, com muita determinação, voltando pra prova. Quando faltava aproximadamente 20 km, os três estavam juntos, um incentivando o outro, exalando companheirismo e amizade, sem se importarem se estavam ou não disputando posições. Nesse momento, Cordeiro passou mal mais uma vez, tendo problemas gastro intestinais, sucumbindo ao vômito, mergulhando num intenso mal estar. Mais uma vez, ele superou as dificuldades, incentivado por Pedro e Gecier, percorrendo juntos o restante da prova, completando os dificílimos 135 km, colocando mais uma ultramaratona em seus currículos, a ultramaratona da AMIZADE.