domingo, 14 de abril de 2019

SUPERAÇÃO E RAÇA

Tudo estava preparado, a estratégia foi traçada, a equipe de apoio formada, alimentos e suplementos separados, tudo pronto para mais uma batalha de Pedro Luiz Cianfarani, incansável Ultramaratonista, a percorrer em sua vida. A prova em questão era "300 o desafio", prova organizada pela Ultrarunner Eventos, percorrida pela belíssima estrada Real, em Minas Gerais. O treinamento foi realizado com sucesso, muitos kms rodados, que supostamente dariam a Pedro confiança em realizar com bravura sua prova. Porém, 3 semanas antes da prova, ele acabara sentindo um desconforto na coxa direita, um sinal de alerta para lhe acompanhar pela difícil corrida que teria pela frente. Mas a confiança era tamanha, que isso não era nem comentado na equipe, devido a bravura e força de vontade que Pedro sempre mostrou nas corridas que já participou. Assim que largaram, a adrenalina tomou conta dos atletas, que certamente dariam tudo de si pra concluir os 300 km. Pedro não estava na lista entre os atletas mais rápidos, mas com certeza sua resistência e a capacidade de ficar muitas horas sem dormir davam confiança aos que estavam em sua torcida. Com o passar dos kms, víamos que não seria uma prova como as outras, onde tudo correria bem, mas seria daquelas que sua força de vontade precisaria ser exigida ao máximo para conseguir concluir os 300 km no tempo desejado. Com 40 km, uma lesão no joelho o assolava, comprometendo sua movimentação correta de corrida, prejudicando sua prova. Mesmo não reclamando muito da dor, era nítido que sentia muito seu joelho e logo sua lesão na coxa começou a dar sinais. A primeira madrugada foi terrível, devido a uma tempestade, com muita chuva e um intenso vento. Quando amanheceu, percebemos que ele estava visivelmente abatido, com sinais aparentes de muito sono. Mas bravamente, seguia em frente, num ótimo ritmo, vencendo as adversidades que surgiram logo no início da prova. Com aproximadamente 28 horas de prova, Pedro passou por seu pior momento na corrida, afligido pelo sono, castigado pela lesão no joelho. Tentávamos de tudo para animá-lo, alimentos, pausas, conversas, mas o sono estava intenso demais, com cerca de 170 km rodados. Após uns 20 minutos de conversa entre os integrantes da equipe, convencemos a tomar cafeína e tentar seguir em frente. A tentativa deu certo e ele voltou pra prova. Seguiu em frente, lutando bravamente contra as dores, que eram muito intensas. Sua força de vontade era emocionante, inspiradora, que naquela altura era sua principal arma para seguir em frente. Com muita luta chegou na segunda madrugada, devastadora em suas condições. Perto das 5 horas da manhã, precisou dar um cochilo de 15 minutos, pois seus olhos estavam literalmente fechados enquanto corria. Após esses milagrosos 15 minutos, de forma impressionante, voltou pra luta, percorrendo a cada metro com muita garra, completando os 300 km em 56 horas e 45 minutos, terminando em quarto lugar geral, fantástico, vencendo as dores, o desgaste físico, o sono e é claro, os 300 km!