sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

UAI Reverse 235 km – calor, estratégia e superação

Dentro do meu projeto pessoal de completar algumas das principais provas longas do Brasil, ainda faltava a

UAI Reverse 235 km. Já havia feitos outras distâncias na Reverse e finalizado os 235 km no sentido tradicional, e agora era hora de encarar o percurso invertido — diferente, exigente e, para muitos, ainda mais duro.

Como sempre, não existe largar sem preparo. Sabendo da dificuldade da prova, encaixei três semanas de treinos fortes, 50 km no Caminho do Capivari, usei a prova da Fênix rodando 6 horas e com destaque para o tradicional treino até Bertioga na casa dos meus pais com meu grande companheiro, meu irmão Beto, foram 76 km pelo Caminho do Sal. O corpo estava pronto. A cabeça também.

Cheguei a Passa Quatro no dia 27 de novembro para retirada do kit. A largada aconteceu na manhã seguinte, às 8h. Diferente da edição do meio do ano, disputada no inverno, essa prova trouxe um fator determinante: calor e umidade. Dias antes havia chovido muito na região, e quando o sol apareceu, o clima virou uma verdadeira estufa.

Treino de Bertioga
Saí como sempre faço: controlado, respeitando a distância. Nos primeiros quilômetros, segui tranquilo, cruzando cidades como São Lourenço e Caxambu, sempre com apoio impecável da minha esposa Claudia e do meu irmão Beto. Tudo fluía bem, enfrentei a temida Serra do Papagaio em um ritmo bom e constante até Aiuruoca.

A partir dali veio o trecho mais difícil para mim: cerca de 35 km até Alagoa, beirando um rio, sob um calor úmido e castigante. Meu rendimento despencou. Foram muitos quilômetros praticamente caminhando, tentando controlar o corpo e a mente. Usei tudo que estava ao meu alcance: água gelada, gelo no pescoço, hidratação constante e, principalmente, paciência. Eu sabia que uma hora o corpo voltaria.

E voltou.

Aos poucos, consegui trotar novamente e cheguei em Alagoa mais inteiro. Em provas muito longas, os atletas ficam extremamente espaçados, e ali a solidão da corrida ficou ainda mais evidente. Daquele ponto em diante, eu sabia que a prova tinha mudado de fase.

Enfrentei então a Serra do Garrafão, uma subida dura, feita em caminhada forte, já com a companhia hora da Claudia e hora do Beto. No alto, veio uma longa descida sentido Itamonte — um trecho que exige cuidado redobrado por causa do meu joelho. Administração total.

Quase terminando a segunda noite, cheguei em Itamonte, vivendo situações que só quem corre ultras entende: apesar do cansaço sabia que faltava pouco sempre com atenção constante e o apoio dos meus anjos da guarda, Claudia e Beto faz toda diferença.

Neste último trecho já com o dia clareando e o sol nascendo, segui firme até a chegada. Cruzei a linha final com pouco mais de 46 horas, extremamente feliz.

Ainda brinquei com a organização sobre o tempo, e veio a surpresa:

3º lugar na categoria com apoio e 6º lugar geral.

Mais do que números, ficou a confirmação de algo que sempre levo comigo: quando o treino é feito e a cabeça está no lugar, o corpo responde, mesmo depois de cair.

Mais uma prova acima dos 200 km finalizada.

Mais uma história para guardar — e contar.

Já na semana seguinte a essa prova, vivi outro momento marcante: o lançamento do meu livro “Passos que Contam Histórias”. Um contraste perfeito entre o silêncio das estradas e o calor dos encontros. Esse momento vai ganhar um relato especial aqui no blog, aguarde.